Os tempos são amargos para a imprensa. Mas a missão de quem a mantém viva, continua doce. No Região de Cister são 30 anos a seguir a mesma receita, com novos ingredientes e uma boa dose de resiliência.
Vivemos dias agridoces. Sentimos o paladar ácido do mercado e, ao mesmo tempo, o palato doce de quem ainda vê na imprensa um agente de desenvolvimento regional. Há 30 anos que o Região de Cister segue a mesma receita, mas foi preciso reinventar alguns dos processos para acompanhar as tendências e exigências de um público cada vez mais bombardeado com informação.
As ferramentas digitais são cada vez mais e melhores, o acesso à informação é cada vez mais amplificado, mas os jornais, coitados, parecem ser úteis apenas para embrulhar copos, limpar vidros ou colocar naquela perna da mesa que teima em abanar.
Infelizmente, não sou do tempo em que se faziam filas para comprar jornais, nem do tempo em que o jornalismo era respeitado e se dava ao respeito. Sou do tempo em que se paga 75 cêntimos (com sorte) por um café e se reclama por um “jornalinho” gratuito. Sou também do tempo em que há uma fome desenfreada pelas e nas redes sociais, onde não há lugares reservados e todos se sentam à mesa, com pouca ou nenhuma educação. A comida é de plástico, mastiga-se e deita-se fora, com a mesma velocidade a que foi servida. E os jornais lançam os títulos para as redes sociais, “fecham” as notícias e nem explicam o que se passa. Jornalistas, dizem eles. Se, ao menos, houvesse algum jornal como deve ser…
Esta edição do Região de Cister assinala 30 anos de um jornal, cujo nome já carrega em si uma marca identitária: “Cister” – com sílaba tónica no “er”. Um jornal regional que, apesar de ter feito alguns jejuns, nunca deixou a sua comunidade passar “fome”. Nasceu para servir a região de Cister e é a região de Cister que tem servido.
É certo que não podemos trabalhar como se trabalhava há 30 anos. É, por isso, necessário parar para pensar o que está a mudar e qual o papel do jornalismo neste mundo contemporâneo, sem enterrar a cabeça na areia. Os grandes e difíceis desafios de há 30 anos continuam a ser os mesmos para a imprensa regional, agravados por outros dos tempos que hoje vivemos. Mas, as notícias não foram abandonadas, os formatos e os suportes tradicionais é que parecem já ser démodé. Em muitos concelhos do País já existe um “deserto informativo”, como agora lhe chamam. É preocupante ver jornais a fechar e deve ser fator de reflexão de todos. O que aconteceria à região de Cister se o Região de Cister desaparecesse?
Há muito que o jornalismo não pode ser visto como um negócio, tem de ser visto e sentido como uma ferramenta ao serviço da sociedade e do público em geral. Mas, para isso, é preciso apoiar, comprar e defender, se for o caso. Com o advento das redes sociais e das plataformas de acesso à informação, o jornalismo caiu num processo de descredibilização. O que não ajuda em nada, diga-se, à saúde da nossa democracia.
São mais os “dissabores” do que as alegrias de quem trabalha numa redação. Os recursos são escassos, a valorização é pouca ou nenhuma, tenta-se fazer o melhor com o que há e há pouco. Se não houver quem defenda o jornalismo, se o Estado e as autarquias continuarem a alimentar o jornalismo – não a comunicação social – com trocos, se os gigantes Google e Facebook continuarem a alimentar-se do trabalho dos jornalistas, se a sociedade não se mobilizar no sentido de defender a imprensa, corremos todos o risco de viver no tal “deserto informativo”. É isso que se quer? Ou vamos depois dizer que “quando havia jornais é que era bom?”.
Num território vasto, com três concelhos e 26 freguesias, o Região de Cister tem sabido ocupar o seu espaço e ser aglutinador de uma região rica, doce, bonita e apetitosa. Deve ser motivo de orgulho de todos os cistercienses ter um jornal que dá voz à sua comunidade e que está próximo dela.
Na comemoração destes 30 anos do nosso jornal, queremos estar ainda mais perto dos nossos, daqueles que dizem ser “sócios” do Região de Cister, dos que colaboram voluntariamente com o Região de Cister, dos que nunca nos dizem que não, dos que nos exigem (e bem) fazer mais e melhor. E é nisso que vamos estar empenhados.
A que sabem 30 anos de um jornal? Sabem, essencialmente, a compromisso. Um compromisso que queremos renovar, pelo menos, por mais 30 anos. Obrigada, caro(a) leitor(a), por tudo.