Glamour? É uma palavra que está em voga em Alcobaça, mas não pelas melhores razões. Uma das coisas que tem desaparecido da cidade é exatamente esse “glamour” que, em tempos a destacava, incontestável no Oeste. Desde as romarias intemporais ao Mosteiro; até aos loucos anos 90, com o caminho a indicar a noite de Alcobaça para o Bar Ben ou Clinic.
Nos meus sonhos mais irrealistas sobre Alcobaça, contemplo uma livraria; Uber Eats/McDonalds; a requalificação dos rios; menos buracos nas estradas; menos prédios devolutos; salas de ensaios para os músicos que o concelho alberga, espaços idênticos para outros criativos; um pólo profissional para acolher jovens e seus projetos. Mais incentivos para quem quer trazer algo mais à cidade do que outro mega-armazém de produtos chineses que fez com que uma das entradas principais em Alcobaça ficasse ainda mais caótica e degradada, não tendo havido rigor nenhum, ao nível do design e integração no espaço circundante.
Atenção: eu vou aos chineses de Alcobaça comprar utilidades. Estavam bem integrados na comunidade ainda antes de eu cá chegar. O restaurante Fu Gui tem comida ótima e barata. Eu não acuso os empresários chineses de fuga ao fisco. Se alguém tiver prova disso, recorra à Justiça. Agora, grita à vista o desleixo a falta de critério deste empreendimento/pavilhão. Tudo bem que se “goste de lá ir”, cada um compra o que quer e vai onde quer. Mas, para ter uma cidade funcional, ela não pode girar à nossa volta, mas à volta de todos; não se pode estacionar o carro de qualquer maneira para ir comprar pilhas; não se pode achar que por estar cheio, faz bem à cidade.
Este glamour é um erro de casting na já feia entrada para Alcobaça, a juntar aos juncos selvagens da rotunda e ao baço relógio que nem as horas dá. Onde podiam estar umas letras bonitas a requalificar Alcobaça, que, outra vez, perde oportunidade para ser mais bela e assim atrair mais gente para as coisas boas que tem cá dentro.