105 anos! É um número verdadeiramente generoso mas, ainda assim, não tanto como a D. Ana Maria, que atingiu tão bonita idade na passada quinta-feira e que recebeu o REGIÃO DE CISTER para partilhar a sua história de vida.
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No início, ainda desconfiada, atirou que nada tinha para dizer, até porque nem conhecia o jornalista que estava diante de si. No final, a história foi completamente diferente e, além de se ter mostrado muito bem disposta, admitiu ter gostado muito de ter falado para o jornal, desejando “uma boa viagem”, despedida tão característica desta eborense, que se tornou na mais velha utente na história da Fundação Maria e Oliveira, em Alcobaça, onde está desde 2017.
É certo que na instituição existem três utentes centenárias, mas Ana Maria (sem apelido) não dá tréguas na “corrida” pelo título de mais velha de sempre. Não fosse ter uma genica e uma expressividade apenas atenuada por alguns episódios de surdez e de uma fraca visão.
Mas se é verdade que os 105 anos acarretam as dores normais do envelhecimento, é também certo que a centenária “finta” os desafios da idade com uma alegria contagiante. “Sou muito feliz aqui”, afirmou, antes de garantir que está agora a viver “a boa vida”. “Não faço nada, estou aqui sentadinha”, brincou a utente, retorquindo com o tema das dores, que por vezes vai sentido e que a vão limitando.
Ana Maria nasceu a 4 de julho de 1919, trabalhou toda a vida como doméstica, “a lavar a roupa no tanque, a caiar paredes”. “Ninguém queria fazer isso, mas eu gostava muito”, notava a eborense, gesticulando como que a falar de “dinheirinho”.
Até porque, ainda em criança, a família viveu com algumas adversidades. O que já não aconteceu quando se tornou mãe do “seu” António Manuel, também ele antigo jornalista, e que brindou a progenitora com a presença no dia do aniversário. “Ele mora em Lisboa e também tenho uma neta, que trabalha em Espanha”, explicava a centenária.
O dia a dia de Ana Maria é bem menos atarefado do que há umas valentes dezenas de anos, mas há coisas que nem com o passar do tempo mudam. Assim é com a alimentação – continua a comer aquilo que quer –, com a roupa – utiliza apenas a sua e ainda sabe bem o que é seu ou não – e com aquilo que afirma. “Ainda está muito lúcida e é muito determinada. Sabe o quer”, refere a diretora técnica, que fez questão de enfatizar a empatia de Ana Maria, que é também uma contadora de histórias.
“É uma senhora muito meiga. Muito empática e que gosta muito do contacto humano. Detesta ficar na cama, por exemplo”, explica Sandra Oliveira, aludindo a uma senhora que é uma verdadeira animação para as funcionárias.
Sobre o futuro, a centenária, que já tem dificuldades de locomoção, afirmou não querer chegar aos… 110 anos, mas a julgar pelos (apenas!) dois comprimidos que toma por dia, não será de admirar que o consiga!