Irma Razmadze Rodrigues emigrou para Portugal com o marido, que tinha à sua espera em Portugal um emprego numa empresa de alumínios em Pataias, no ano 2000. Deixou para trás Tiblissi, na Geórgia, de onde é natural e onde tinha vivido toda a vida. Os dois filhos do casal nasceram em Portugal e a vida corria sobre rodas até que o destino trocou as voltas a Irma e ao marido, que foi vítima de atropelamento. Ele quis regressar ao país de origem, mas Irma manteve-se em Pataias com os filhos. “Eles nasceram cá e achei que estávamos melhor aqui”, conta a georgiana com nacionalidade portuguesa.
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Hoje a mulher, de 47 anos, vive o segundo casamento, desta vez com um português, de quem tem outros dois filhos, gémeos de 16 anos. Quem convive com os seus quatro filhos, dificilmente percebe que têm ascendência do país da antiga república soviética.
Irma reconhece o carinho com que foi recebida em Pataias. Foi graças à senhoria da casa onde vivia que aprendeu a falar português. “Ela estava sempre a ensinar-me e a puxar por mim”, conta, enquanto confessa que “ao início não sabia mesmo nada”. Não é surpresa que a língua portuguesa é de difícil aprendizagem, sobretudo para nativos da Georgia, já que o georgiano é uma das línguas mais antigas e peculiares do mundo, por ter conseguido preservar bastante do seu alfabeto e pronúncia originais, que remontam à era antes de Cristo, ao longo dos séculos.
A mesma senhora que a ajudou a comunicar ensinou-a a cozinhar pratos da gastronomia portuguesa, habilidades que lhe valeram lugar em cozinhas de vários restaurantes e o trabalho que atualmente tem.
Nunca teve vontade de regressar definitivamente à Geórgia, onde já esteve de férias com toda a família. Sente-se em casa em Pataias e não se imagina noutro local. “A minha vida há muito que é aqui”, confessa Irma, que elogia o “sítio calmo” e sem preocupações de maior. Com a distância de mais de duas décadas desde que se radicou em Pataias, a georgiana nota o crescente interesse pela União de Freguesias de Pataias e Martingança. “Cada vez há mais pessoas a quererem viver aqui. Começo a ver gente a mais”, diz, em tom de brincadeira.
O apelo pela terra é compreensível. “Esta é uma zona muito bonita, onde se pode viver bem e onde se encontra uma comunidade muito familiar, onde não há problemas e isso vai sendo cada vez mais raro”, analisa Irma, que nem no confronto Portugal-Geórgia, no Euro, se sentiu desconfortável. “Estava convicta que Portugal ia ganhar e foi uma surpresa, mas acho que o Cristiano deixou a Geórgia ganhar porque, afinal, foi ele que ajudou a escola de formação dos jogadores georgianos”, acredita Irma, que não ficou surpreendida quando os jogadores do seu país natal foram recebidos como heróis.
A guerra na Ucrânia também não a surpreendeu. Não tem dúvidas de que a agenda de Putin passa pelo regresso da união soviética, pelo que a Geórgia se mantém em perigo. “A Rússia tem 20% de território da Geórgia ocupado desde 2008. É um país muito mais pequeno do que a Ucrânia… o que pode contra a Rússia?”, questiona a georgiana, que se sente portuguesa numa região onde já passou mais de metade da sua vida.