Terça-feira, Dezembro 3, 2024
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Quando em pequena ia, à segunda-feira, a Alcobaça fazer compras, havia um lugar que me atraía mais do que todos os outros e donde dificilmente me desprendia, a minha livraria do arco

Susana Santos

Este ano, enquanto passeava por São Martinho do Porto, reparei que estão de volta e ainda com mais oferta, as livrarias de verão. A par com o mar, para mim uma livraria é – como disse Borges – uma espécie de paraíso.

Quando em pequena ia, à segunda-feira, a Alcobaça fazer compras, havia um lugar que me atraía mais do que todos os outros e donde dificilmente me desprendia, a minha livraria do arco. Teria outro nome, mas eu chamava-lhe assim porque ficava no arco do celeiro dos monges. Era ali que despendia todo o dinheiro que resultava de uma semana de recados e ajudas e era na montra que hipotecava o meu tempo e os meus sonhos. Às vezes passava um mês inteiro sem comprar um único livro porque demorava mais a amealhar o necessário. Mas foi ali que comecei a apaixonar-me pelos livros. Na altura vivia numa aldeia, da qual só saí para entrar num colégio interno. No entanto, já nessa altura conhecia uma boa parte do mundo e nem o passado nem o futuro me eram estranhos. A Anne Frank já me tinha falado do medo e da guerra, o Júlio Verne já me tinha explicado que não há impossíveis e o Jorge Orwell já me tinha obrigado a pensar no que significa o poder, a esperança ou o controlo.

Esta semana, o jornal Expresso oferece-nos uma excelente reportagem sobre o aumento do número de leitores em Portugal, sendo os jovens os maiores responsáveis por essa feliz notícia. Só espero que este hábito se estenda a outras idades. Digo-o porque, cientificamente, está provado que faz bem a tudo: à democracia, que só sobrevive se os governados forem informados, à liberdade, que só existe quando se reconhecem as escolhas, à saúde mental, porque a saúde do cérebro se fortalece com a leitura, à robustez do corpo, que depende muito das capacidades cognitivas, enfim, à felicidade individual e coletiva porque acredito mesmo que a escrita e a consequente leitura são a grande fortuna dos homens.

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