As autárquicas aproximam-se em todo o seu esplendor e folclore. Nós cá estaremos de caneta em punho para botar o voto na urna e confiar os nossos intentos a uma pessoa política, fazendo figas para que tudo corra pelo melhor e que vejamos as nossas localidades prosperarem.
Brincadeiras à parte, estas eleições de 12 de Outubro, revestem-se de um imenso fator humano, sendo o ato eleitoral que mais influencia o nosso quotidiano. Não é o poder central que nos irá arranjar o buraco na rua, contratar o nosso artista preferido para as festas, construir a ciclovia até ao Valado, ou ouvir as nossas reivindicações na assembleia municipal.
O poder local, pela sua proximidade com os eleitores, é o local do poder autêntico.
Faz-me mais impressão vê-lo usado para maiores voos (assembleia da república, parlamento europeu) do que me causa espanto um autarca que, até ao limite constitucional, cumpra com o seu projeto de uma terra que possa chamar sua. Não tanto por ser “nativo” (para mim esse não é um critério essencial, porque a mudança faz parte da vida) mas pelas sinergias e ligações que consegue criar.
Um autarca tem uma responsabilização e uma exposição muito maior que o político central. É óbvio. Aliás, o autarca, cor política à parte, deve ser um obstáculo dinâmico à centralização que é um fenómeno cruel de desumanização e de desresponsabilização perante quem o elege.
Quando ando pelas ruas de Alcobaça e vejo as caras nos cartazes, reconheço-as. Já estive à conversa com algumas dessas pessoas, sentado no mesmo café ou restaurante, ou à espera numa fila de supermercado. Esse convívio traz a segurança que o poder central, anónimo, barulhento e, com novos intervenientes na cena, se descredibiliza com cada atitude marialva, pedante ou sobranceira.
Por enquanto, em todas as cidades, vilas e aldeias em Portugal vamos tendo essa possibilidade de partilha de poder. E é avisado exercê-la premiando quem faz acontecer e castigando quem se limita só a falar.