Há cerca de um século, um autor, hoje, quase desconhecido (Oswald Spengler), publicou uma obra que se tornaria leitura obrigatória em cursos em que se abordasse Filosofia da História; chamava-se a obra O Declínio do Ocidente. Do pouco que me ficou de tal leitura, retenho a ideia de que a Europa (e, por extensão, o Ocidente) tinha terminado, em...
Em 1942, um dos maiores poetas da língua portuguesa, o brasileiro Carlos Drummond de Andrade, escreveu “José”, um dos seus muitos geniais poemas:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Este poema (de que a parte citada é apenas...
Era uma vez uma menina cega chamada Ana Isa. Um dia, vá lá saber-se porquê, mas é, de certeza, coisa de quem apenas vê com o coração, a Ana Isa descobriu o Vitorino, sim, esse mesmo, um dos nomes maiores da música popular portuguesa, com aspeto de distante, para não dizer coisa menos simpática, mas é assim que nascem...
A investigação da verdade, a vontade de ler o pensamento alheio, para o controlar deve ser tão antiga como a humanidade. Com o advento da ciência, esta também quis, e quer, dar uma palavra sobre o assunto. E nasceu, assim, o polígrafo: quando uma pessoa é questionada, uma série de cabos e sensores examinam os batimentos cardíacos, a pressão...
Devo dizer que, como ex-católico tradicional, formado, em grande parte, num seminário de Braga, sempre me identifiquei mais com o Natal do que com a Páscoa. No entanto, sempre percebi que o âmago dos mistérios religiosos estava na Páscoa. Talvez por isso, enquanto que, no Natal, chegava a casa dos meus pais por volta de 18 de dezembro, na...
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”
(Álvaro de Campos, Poema em linha reta)
Se eu fosse ministro da Saúde, se, por impensável, me restasse algum tempo livre, pensaria em reescrever este poema de Álvaro de Campos, se o génio me visitasse por engano. E, tal como ele, “invejaria” aqueles que nunca erram, aqueles...
Comecei a escrever este texto em modo de zangado, desancando em quem se acha “herói” nesta situação, de contornos épicos, em que um vírus nos colocou. Já ia na terceira enumeração de falsos heróis quando me dei conta do desaforo que estava a promover. De facto, para desgraça, basta-nos a realidade; não é necessário comentário que a potencie.
Assim, em...
As épocas de crise não são absolutamente más, embora, intrinsecamente, o sejam. Pelo seu dramatismo, lançam luz sobre domínios nunca pensados – ou pensados displicentemente. Há mais de 200 anos (em 1816), Napoleão, uma personagem de luz e de sombras, afirmou que a China não estava, como parecia estar na altura, votada ao declínio inexorável. E, como súmula do...