O alcobacense José Bárbara integrou o Corpo Expedicionário Português (CEP) na 1.ª Guerra Mundial, mas depois do conflito fez vida em França. Recordamos a história deste mecânico da mão cheia.
O alcobacense José Bárbara integrou o Corpo Expedicionário Português (CEP) na 1.ª Guerra Mundial, mas depois do conflito fez vida em França. Recordamos a história deste mecânico da mão cheia.
Por intermédio da Delegação da Liga dos Combatentes de Alcobaça tivemos conhecimento de mais uma história do CEP que envolve um alcobacense. Este caso concreto tem a ver com a unidade das motos. A maior parte das cerca de 100 máquinas de duas rodas que integraram o CEP eram “Harleys” e “Indians”, que foram usadas em serviço de estafetas do Comando General Português.
Há poucas informações sobre os ditos serviços, mas existe uma foto da época que “apanhou” um dos mecânicos do contingente na localidade de Wittermesse, perto de La Lys, onde teve lugar a tristemente célebre batalha do mesmo nome e que tem sido amplamente discutida nas últimas semanas.
O mecânico em causa era o alcobacense José Bárbara. Embora seja sabido que alguns integrantes do CEP ficaram em França depois do primeiro grande conflito à escala mundial, o caso deste alcobacense é possivelmente único. Senão, vejamos.
José Bárbara montou uma oficina de reparação de motos e bicicletas no leste de França, que ganhou fama. Arranjou uma namorada numa aldeia próxima da sua oficina e casou com ela. O casal ainda veio viver para Portugal, mas não de adaptou e voltou para França.
José Bárbara montou uma oficina de reparação de motos e bicicletas no leste de França, que ganhou fama. Arranjou uma namorada numa aldeia próxima da sua oficina e casou com ela.
Na pesquisa que fizemos posteriormente fomos surpreendidos com um texto da RTP Notícias, que entrevistou um seu filho. Roger Barbara é cidadão francês mas referiu as suas origens portuguesas. “O meu pai era português. Ele veio para a guerra de 1917, casou com a minha mãe e depois vim eu. Desembarcou em Cherbourg e chegou a Blessy. Mas era mecânico. O meu pai dizia sempre: ‘Eu nem sequer sei o que é uma espingarda’. Ele nunca tinha tocado numa espingarda! Ele estava numa oficina em Blessy, estavam lá dois mecânicos, e eles ainda lá ficaram cerca de dois anos”, recorda o filho deste self made man por terras… gaulesas.
E prossegue o testemunho sobre o pai da seguinte forma: “Li numa revista que os mecânicos do exército português eram os ‘queridos’ do exército. Ele contou-me que em Portugal, já era aprendiz numa oficina, com 14, 15 anos. Nasceu em 1895, teria portanto 22 anos. Constava do seu bilhete de identidade que era de Alcobaça. Ele tinha amigos portugueses aqui, que se naturalizaram. E ele nunca quis naturalizar-se, sempre disse que era o que lhe restava do seu país, e isso fez com que fosse todos os anos obrigado a ir a Bolonha para tratar do seu contrato de trabalho. Mas certo é que os meus pais se conheceram quando o meu pai era soldado em Witternesse, e depois casaram-se em 1920, quando ele foi desmobilizado”.
Roger Bárbara não esconde o orgulho pelo facto de ser filho de um sobrevivente da 1.ª Guerra Mundial e, no fundo, de um homem que conseguiu conquistar também os franceses, para além da francesa com que viria a casar… “O meu pai era encantador, sempre sorridente, sempre com uma palavra amável. Ainda me lembro de pessoas dizerem ‘nós gostávamos muito do senhor Bárbara’. E depois também gostavam muito do sotaque dele”, recorda Roger. Para variar o registo de uma boa recordação da 1.ª Grande Guerra, neste caso de um alcobacense que se transformou num mecânico que serviu o Corpo Expedicionário Português com a bravura que se lhe exigia para as funções que lhe foram acometidas. E que é mais um exemplo das ligações de Alcobaça ao conflito que durou entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918 e que tantas mortes causou. Ficam, porém, estas histórias de vida para que se perceba que também destas guerras resultaram histórias de amor.