Sábado, Novembro 23, 2024
Sábado, Novembro 23, 2024

Tiago Guerra: “Deixo o HC Turquel em boas mãos”

Data:

Partilhar artigo:

Tiago Guerra está de saída da presidência do HC Turquel, depois de 25 anos à frente do clube. O dirigente fica ligado a alguns dos maiores feitos da história dos Brutos dos Queixos e deixa um legado de estabilidade na 1.ª Divisão, presenças consecutivas nas provas europeias e títulos nacionais femininos. Na hora da despedida, garante que vai continuar a trabalhar pelo emblema, que ficará bem entregue, e lamenta o rumo que o hóquei em patins nacional está a trilhar.

Tiago Guerra está de saída da presidência do HC Turquel, depois de 25 anos à frente do clube. O dirigente fica ligado a alguns dos maiores feitos da história dos Brutos dos Queixos e deixa um legado de estabilidade na 1.ª Divisão, presenças consecutivas nas provas europeias e títulos nacionais femininos. Na hora da despedida, garante que vai continuar a trabalhar pelo emblema, que ficará bem entregue, e lamenta o rumo que o hóquei em patins nacional está a trilhar.

REGIÃO DE CISTER (RC) > Fez inúmeros mandatos à frente do HC Turquel. Cumpriu tudo a que se tinha proposto neste quarto de século?
TIAGO GUERRA (TG) > Fiz tudo o que podia e que não podia pelo clube. Quando iniciei funções foi muito complicado. Em 1992 sucedi na presidência ao meu tio, Joaquim Guerra, e peguei no clube com o Afonso Vicente num momento particularmente difícil em termos financeiros. Eram épocas em que tínhamos António Livramento como treinador e Chambel na baliza. Pagavam-se subsídios a treinadores e jogadores muito elevados. Fizemos grandes épocas, recordo um 4.º lugar no campeonato e uma final da Taça de Portugal, mas não era sustentável manter aquela política desportiva. Decidimos, então, reduzir os custos com a equipa sénior e apostar na formação. Descemos à 2.ª Divisão em 1993/94 e fomos organizando o clube com a chamada prata da casa. Foi dessa forma que subimos novamente em 2001/02, mas descemos na época seguinte. Em 2012/13 voltámos à 1.ª Divisão e estabelecemos o recorde do clube, com oito temporadas seguidas no escalão principal. Mas sempre com muito rigor em termos financeiros. Conseguimos ter equipas quase apenas formadas por jogadores formados no clube e nunca falhamos os pagamentos. Pagamos pouco, mas a horas.

Região de Cister - Assine já!

RC > Essa aposta na formação permitiu fabricar inúmeros talentos que jogam ao mais alto nível, até noutros países. Isso é satisfatório para o clube?
TG > É um reflexo desse trabalho, mas confesso, por outro lado, que esse é precisamente um dos principais fatores que me leva a sair da Direção. Os clubes formadores como o nosso acabam sempre por ser prejudicados, porque deixámos de ser ressarcidos pela saída dos atletas. Até há algum tempo, todas as transferências entre clubes tinham de ser pagas. O Benfica ou o Sporting chegam aqui e levam-nos os miúdos mais talentosos com facilidade. Sem sequer uma palavra. Por isso, fica a satisfação de vários deles chegarem ao topo, mas ao mesmo tempo um sentimento de injustiça. A Federação de Patinagem devia voltar atrás com esta situação, porque isto só favorece os grandes. O maior custo que temos no clube é a formação, não é a equipa sénior. E deixou de haver respeito entre os clubes. Há uma falta de valores no hóquei que é preocupante. 

“As questões financeiras estão a sobrepor-se na modalidade e clubes como o nosso, fora dos grandes centros, têm uma base de recrutamento muito mais reduzida”

RC > Foi isso que explicou, também o fim da equipa feminina?
TG > Exatamente o mesmo. O Benfica chegou aqui e dava tudo às nossas jogadoras. Ainda conseguimos manter a equipa alguns anos, mas depois acabámos por desistir, pois queríamos recrutar jogadoras e não conseguíamos. Na equipa masculina conseguimos manter, durante alguns anos, uma base boa na equipa, mas as próximas temporadas deixam-me algo apreensivo. Como é que seremos capazes de conseguir recrutar jogadores se não temos capacidade financeira para competir com os outros? É difícil encontrar jogadores para jogar na 1.ª Divisão e se a nossa formação tem tido dificuldades, salvo algumas exceções, para abastecer a equipa será complicado sermos competitivos. As questões financeiras estão a sobrepor-se na modalidade e clubes como o nosso, fora dos grandes centros, têm uma base de recrutamento muito mais reduzida.

RC > O campeonato português é considerado o melhor do mundo. Concorda com esta apreciação? E como é que o HC Turquel se conseguirá manter ao mais alto nível?
TG > As próximas épocas serão muito difíceis para o clube, mas acredito que será possível manter este estatuto de primodivisionário. O campeonato é muito difícil e algo desequilibrado, pois há cinco equipas muito poderosas e as restantes lutarão pela manutenção. Andamos há anos a combater com armas desiguais, porque um jogador do Sporting, Benfica ou FC Porto custa quase tanto como toda a nossa equipa. É por isso que o HC Turquel está a apostar na formação, mas quanto a mim talvez seja necessário repensar as coisas. Nos últimos anos cresceu-se imenso em número de atletas, mas talvez fosse preferível apostar mais na qualidade em detrimento da quantidade. É apenas uma opinião, claro.

RC >  Qual é o momento que guarda com mais orgulho da sua passagem pelo clube?
TG > Não tenho dúvidas em dizer que é este ciclo de épocas consecutivas na 1.ª Divisão. A todos os níveis. Em termos financeiros conseguimos ter tudo em dia, deixámos uma verba da época passada e que fica para a nova temporada e isso, para mim, é o mais importante. 

RC > Está de saída do clube. É o momento certo?
TG > Já devia ter saído há meia-dúzia de anos. Andei à espera que outro elemento da minha equipa avançasse, mas isso nunca aconteceu e fui ficando mandato após mandato, mas agora é o momento certo. Além disso, tenho de dar atenção à minha família e esqueci-me dela durante tempo demais. A nível profissional nunca senti dificuldades em compatibilizar com o trabalho no clube, mas a família ressentiu-se muito. A família apoiou-me, mas sobretudo agora… Já tinha decidido sair há dois anos, mas gerou-se um impasse e acabei por ficar mais um mandato.

RC > E desta feita isso não poderá voltar a suceder?
TG > Desta vez estou mesmo de saída. Têm-se sucedido reuniões nas últimas semanas para se encontrar uma alternativa para os órgãos sociais e estou certo que será encontrada uma lista. Há um nome bem colocado para assumir a presidência, espero que se resolva em breve. Mas, uma coisa é certa: deixo o HC Turquel em boas mãos.

“Sofri muitos anos para arranjar receitas para fazer face às despesas”

RC > Foi sempre um presidente de balneário?
TG (TG) > Pode dizer-se que sim. Sempre estive aberto ao diálogo e procurei estar próximo dos jogadores e dos treinadores para resolver os problemas quando eles surgissem. Não consigo dizer que não a ninguém e fui-me afeiçoando às pessoas e cada vez mais ao clube, reforçando essa ligação. A homenagem que me fizeram no final da época deixou-me muito sensibilizado. Não queria nada daquilo, porque para mim o importante é o HC Turquel. Mas quando vi que tinha lá a minha família toda, o coração bateu muito forte. E tenho de ter cuidado com essa emoção…

RC > E o que se segue? Continuará disponível para trabalhar pelo clube, mesmo noutras funções?
TG > Deixar o HC Turquel não é uma possibilidade. Querem que continue na Direção, mas agora como presidente honorário. Ainda não disse que sim. Estou a refletir. Sofri muitos anos para conseguir arranjar verbas para fazer face às despesas do clube, organizando eventos, batendo a muitas portas. Felizmente, essa estabilidade financeira também se refletiu nos resultados desportivos. Mas se estivéssemos na 2.ª Divisão a atitude seria a mesma, no sentido de assegurar que o clube cumpria a sua palavra. Essa sempre foi a minha prioridade.

RC > A aposta na HCT.tv foi uma aposta ganha? Sente que foi importante na consolidação do clube?
TG > Quando começámos não havia nada do género. Quebrámos o paradigma das transmissões de hóquei em patins e marcámos pela diferença. De resto, o clube acompanhou sempre a evolução tecnológica, muito devido ao empenho do Dinis Vicente, que tem sido extraordinário no apoio ao HC Turquel ao longo dos anos.

RC > O que espera do futuro do clube?
TG > O HC Turquel vai continuar a crescer. A Direção que entrar em funções vai, certamente, manter alguns dos elementos e, com a chegada de novos dirigentes, isso é uma garantia de que o trabalho vai continuar a ser bem feito em prol do clube. A nível desportivo a prioridade terá de passar pela manutenção na 1.ª Divisão, mas sei que vamos ter grandes dificuldades nas próximas épocas.

RC > E acredita ser possível lutar por títulos nos próximos anos?
TG > Vejo com alguma dificuldade, pelo menos nos próximos anos. A formação não tem sido capaz de gerar jogadores que suportem a equipa sénior e com a disparidade de orçamentos que existem e a dificuldade em encontrar jogadores disponíveis o cenário pode ser adverso. Se não conseguirmos segurar os nossos melhores talentos é muito difícil manter a competitividade. Voltamos a falar da questão das indemnizações pela formação. O medo que tenho do futuro é esse, mas podemos sempre ter a sorte de ganhar um título. Já estivemos nas meias-finais da Taça de Portugal, na época em que subimos à 1.ª Divisão, e na época passada podíamos ter ido ainda mais longe na Taça CERS. 

AD Footer

Os senhores da guerra

Artigos Relacionados

Os senhores da guerra

Quem são eles? Somos todos nós. Quem no café, disparata sobre russos e ucranianos, israelitas e palestinos, sudaneses, como se...

Melanie Santos lança livro para inspirar gerações futuras

A alcobacense Melanie Santos voltou a “casa”, na quarta-feira da semana passada, para apresentar o livro “Além da...

Continente abre loja Bom Dia na Benedita

A loja Continente Bom Dia abriu, esta quinta-feira, portas na vila da Benedita, na Avenida Padre Inácio Antunes,...

Coleções da Vista Alegre conquistam prémios internacionais de design

A Vista Alegre, que está a celebrar os 200 anos, tem agora mais motivos para celebrar. Sete coleções...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!