O Carnaval da Nazaré é uma festa que “não se explica, sente-se”. Em tempos idos, Alves Redol retratava assim o evento conotado como maior rito da vida coletiva do concelho da Nazaré.
“Todos precisam de se divertir. Porque a vida corre bem? Não. Quase sempre porque a vida corre mal”, dizia Redol. “A vida não pode ser só aquela matação(…) o coração da gente rebenta se nele só morar tristeza; é preciso dar-lhe alento”. Não há nazareno que não se identifique com estas palavras. A escrita neorrealista retrata a forma como “brincar ao Carnaval” surtia um efeito dissipador do sofrimento vivido na árdua faina do mar.
Para compreender este “sentir nazareno” devemos ter em conta que não podemos com- preender o homem desligado da sua vida social. Redol fez esta leitura como nenhum outro. O escritor vilafranquense brindou-nos com a mais pura definição deste sentimento adjetivado de inexplicável. Convido-vos a solicitar a um naza- reno que o coloque em palavras; asseguro-vos que vos dirão que é impossível! Rapidamente se apressarão a invocar Redol, exclamando: “Não se explica; sente-se!”.
Quem nos visita poderá questionar o que existe afinal de especial! Poderei responder- lhes (embora seja suspeita) afirmando que a razão está à vista: um postal à beira mar plantado; a forte tradição aliada à fervorosa espontaneidade e a força de um povo a quem “corre o mar nas veias”.
Se dúvidas persistirem, o mote escolhido para 2020 tratará de as dissipar. A expressão “Beu àuga da fontinha” remete-nos para a ideia de que os que chegam de outras pa- ragens, enamoram-se profundamente pela forma de viver dos nazarenos, quando, ex- perimentam “esse sentir” tão peculiar.
Vive-se assim o Carnaval na Nazaré. Uma festa de todos e para todos! Todas as for- mas de expressão defendem a liberdade, o respeito e a inclusão. A produção ímpar de conteúdos criativos não é observável noutra região do País. As marchas de Carnaval são a melhor representação dessa singularidade.
Todos, sem exceção, são o retrato coletivo do talento de um povo que “tem o Carnaval na alma”, porque “ vive, respira e sonha Car- naval”. Façam como Redol: “bebam áuga da fontinha” e enamorem-se!