As rosas declinam-se de vários modos: ou são sem porquê, como em Angelus Silesius (“A rosa é sem porquê; floresce porque floresce (…)”), ou como diz Getrude Stein, “Uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa”, ou se declina de mil e uma maneiras.
Quero deixar de lado estes sentidos e falar nas “Rosas de Cabul”. O título destas anotações foi-me sugerido pela leitura do artigo do “Público” do dia 20/09: “Manifestantes em Cabul contra Extinção do Ministério dos Assuntos da Mulher” – substituído, entretanto, pelo “Ministério para Promoção da Virtude e Prevenção do Vício”. Na fotografia que acompanha a crónica, vêem-se algumas mulheres, “virtuosamente” vestidas, mas com os seus rostos destapados.
Estas mulheres acreditaram em senhores que se revelaram, uma vez mais, pouco recomendáveis. Isto foi há vinte anos e elas convenceram-se de que a selvajaria não iria regressar, até porque os senhores pouco recomendáveis (que são, final, o mundo inteiro) não iriam deixar que a barbárie se voltasse a instalar, depois de todas as atrocidades, depois da destruição dos Budas de Bamiyan, mas, sobretudo, depois de todas as catástrofes humanas, perpretadas sobre os seus próprios cidadãos.
Estas “Rosas de Cabul” não vão ter vida fácil – se conseguirem manter a vida. Em nome da “prevenção do vício”, irão desaparecer outra vez dentro de andrajos que são uma ofensa às mulheres, em primeiro lugar, mas também a toda a humanidade.
Depois de um longo período em que o Ocidente acreditava dogmaticamente na sua superioridade cultural, vivemos num período de “pensamento débil”, em que tudo se discute e em que enclaurar as mulheres em burqas parece tão defensável como a excisão gental feminina.
Regressamos de Cabul sem aviso prévio, deixando lá os nossos colaboradores, às mãos de fascínoras. E, pelos vistos, sem remorsos.