Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Sexta-feira, Novembro 22, 2024

De volta aos mercados para ouvir “a voz da terra ansiando pelo mar”

Data:

Partilhar artigo:

Na semana passada li, com entusiasmo, um artigo assinado pela directora deste jornal, cujo título nos anunciava que ainda há vida no mercado!

E que bonito é o nosso mercado! Esse lugar de encontros, de partilha, esse lugar que nos aproxima da terra e onde podemos ouvir a voz do mar!

Onde, se não no mercado, podemos receber cenouras directamente das mãos quem as arrancou da terra nessa manhã ou comprar maçãs a quem as cultivou? Onde, se não no mercado, podemos ouvir o grito de frescura da pescada, e, ainda, receber de presente um cação seco para a menina, depois, provar?

Região de Cister - Assine já!

Aliás, o mercado de Alcobaça foi, durante anos, o único compromisso que a menina tinha às segundas-feiras e era sempre com a boca aberta de espanto que ali entrava, agarrada à saia da mãe, para se não perder entre o labirinto das bancas.

Poucos locais me trazem tantas memórias como o mercado. Talvez por isso, ainda hoje, sempre que visito uma vila ou cidade, cá dentro ou noutro país qualquer, faço da visita ao mercado um momento tão solene como o da entrada num museu e tão fundamental como a ida ao monumento mais icónico. Só ali consigo, verdadeiramente, entender as gentes e imaginar as suas vidas e os seus desejos. Há mercados onde só o cheiro dos enchidos, dos queijos ou dos fumados domina o ambiente, como se tudo ali girasse em torno da arte de transformar, outros que se enchem da frescura dos vegetais acabados de colher e bradam pela urgência do consumo e outros ainda onde é só a carne ou só o peixe que parecem sobressair e ocupam os melhores lugares. Tenho a sensação que os da carne são quase sempre habitados por pessoas de cara dura e quadrada ao passo que os do peixe vêm acompanhados de uma certa toada no falar… Seja como for, os diferentes mercados dizem-nos quase tudo o que precisamos saber sobre cada terra.

Os nossos têm tradição de séculos. Em boa hora El Rei D. Dinis os estimulou. Por mim, este Rei não se chamaria O Lavrador mas O Poeta ou O Mercador. Além da agricultura, este nosso Rei percebeu, como ninguém até aí, que era nos mercados que as pessoas realmente se aproximavam da terra e se aproximavam entre si, percebeu também que nas trocas comerciais, se trocam muito mais do que cenouras ou laranjas, trocam-se visões de outros lugares, de outras paisagens. Trocam-se sonhos e ideias que vão além do mar. Nos mercados há uma certa poesia.

Agora, que estamos todos a pensar no país, ou assim nos dizem por estes dias que antecedem as eleições, vale a pena pensar em nós, no que somos, no que produzimos e também no que queremos e sonhamos. Um bom sítio para esta reflexão talvez seja, justamente, o mercado, porque, como no verso de D. Dinis, do poema da Mensagem de Pessoa, no nosso mercado, talvez possamos ouvir “a voz da terra ansiando pelo mar”.

AD Footer

Primeira Página

Artigos Relacionados

Ovos Moles da Padaria e Pastelaria Flor de Aveiro estreiam-se a vencer na Mostra Internacional de Doces & Licores Conventuais

Os Ovos Moles da Padaria e Pastelaria Flor de Aveiro arrebataram o primeiro prémio no concurso de doces...

Obra do Funicular da Pederneira travada por ação judicial interposta contra a Câmara

Uma ação judicial movida por uma das empresas concorrentes à empreitada de construção do funicular da Pederneira suspendeu...

Futsal: Tomás Silva é o mais jovem a debutar na elite

Há períodos na vida de um jovem desportista que jamais se esquecem e, no caso de Tomás Silva,...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!