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Inês Carreira sagrou-se, recentemente, campeã nacional universitária no lançamento do peso, num ano de mudança, em que trocou a Juventude Vidigalense pelo Eirense. Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, a alcobacense, de 22 anos, faz um balanço da carreira até ao momento, abordando ainda os desafios que teve e continua a ter pela frente.
REGIÃO DE CISTER (RC) > A que soube este título de campeã nacional universitária?
Inês carreira (IC) > Quando estamos na escola, no trabalho, no treino ou numa competição, o objetivo é sempre realizar a melhor prestação possível. Era uma das atletas com melhor marca entre as participantes – a Eliana Bandeira chegou a estar inscrita, mas foi convocada para a Taça da Europa. O importante é estarmos sempre focados, pois a classificação final só está garantida quando a prova termina, logo foi sempre a lutar até ao fim, de forma a tentar alcançar a melhor marca e classificação possível. O que aconteceu.
RC > Recuando ao início da época. O que a levou a trocar a Juventude Vidigalense (JV) pelo Eirense (GRE)?
IC > No final da época passada os dirigentes do Eirense falaram comigo sobre os meus resultados e que tinham como objetivo ir à 1.ª Divisão este ano, sendo que o contributo pontual que normalmente costumo alcançar no lançamento do peso era essencial. Desde que comecei a praticar atletismo apenas tinha representado o Ginásio e a JV. O facto de este ano ter ido para o GRE não foi necessariamente trocar um clube por outro, mas sim o facto de sentir que ao longo dos anos sempre lutei para alcançar objetivos e o Eirense apresentou-me um projeto bem definido e de valorização individual e coletiva. Decidi que deveria contribuir.
RC > O que ficou dos últimos anos na Juventude Vidigalense?
IC > Ter sido atleta da JV trouxe imensas experiências que vão, sem dúvida, ficar para a memória. Fui a diversos estágios e representei por diversas vezes a Seleção Nacional. Além disso, tive a oportunidade de ter contacto e conhecer muita gente que me fez crescer não só como atleta, mas também como pessoa, sendo que o Paulo Reis (o meu treinador) teve um papel fulcral nisso.
RC > Foi treinada por Paulo Reis e é agora por Luís Herédio. Qual tem sido o papel dos dois treinadores?
IC > O Paulo Reis foi um treinador muito importante no meu percurso pessoal e desportivo. É um treinador que procura maximizar as qualidades dos seus atletas com conhecimentos do treino, que o tornam um dos melhores treinadores do mundo de atletismo no setor dos lançamentos. Com a sua dedicação ao processo de treino individualizado consegue que os seus atletas consigam trabalhar e acreditar para alcançar resultados de topo. O Luís Herédio, tal como o Paulo, tem no trabalho e na dedicação com o treino, e com o seu grupo, a chave do sucesso. Seja qual for a etapa na formação o treinador tem um papel preponderante não só no sucesso desportivo, mas também na formação do atleta enquanto indivíduo. É fundamental para a construção de maior autonomia e independência, da tomada de decisões, da autoconfiança, autoestima e segurança que um atleta deve de adquirir no seu percurso formativo e consequentemente como pessoa.
RC > Foi companheira de treinos da Auriol Dongmo. O que isso significa?
IC > Treinar num grupo de nível elevado é sempre um fator de grande motivação e aprendizagem. A Auriol Dongmo é uma pessoa muito humilde e com uma grande vontade de superação. É muito bom trabalhar com ela e com pessoas que têm objetivos, pois transmitem uma enorme vontade de superação.
RC > O facto de Auriol ser uma atleta num patamar muito elevado acaba por assombrar aquilo que poderia estar a ser o seu percurso?
IC > Não, o facto de trabalhar com atletas de nível nacional e internacional abre horizontes e muita vontade de continuar a aprender e treinar com o objetivo de me superar. Treinar com a Auriol Dogmo, Liliana Cá, Jéssica Inchude e tantos outros atletas que estão num patamar de excelência tem sido importante na minha evolução como atleta e na minha aprendizagem. Tem sido uma enorme satisfação treinar com alguns dos melhores atletas portugueses e fazer parte de grupos de treino com elevados objetivos desportivos nacionais e internacionais. Todos os dias conversamos e trabalhamos mutuamente. Nos momentos mais difíceis estamos presentes para nos ajudarmos uns aos outros e, sendo o atletismo, um desporto individual, a ajuda do nosso treinador e do grupo de treino é muito importante para superar principalmente os momentos menos conseguidos.
RC > Quais são as metas para este ano?
IC > Nesta temporada quero estar ao meu melhor nível, ambicionando estabelecer novos recordes pessoais nas diversas disciplinas onde participo e ajudar o meu clube a obter a melhor prestação de sempre nos Campeonatos Nacionais de Clubes. É uma época bastante exigente, pois estou a concluir o Mestrado em Ensino da Educação Física e o estágio é uma fase muito importante na minha formação.
RC > Sente que, à data, está no nível onde quer e sonhava estar?
IC > Procurei sempre realizar um trabalho persistente e lutar por alcançar todos os objetivos desportivos e académicos. Até ao momento consegui conciliar com sucesso os estudos com o atletismo e alcançar resultados de relevo a nível nacional. Representei por diversas vezes a Seleção Nacional e sinto um grande orgulho em ser mais uma alcobacense a elevar o nosso concelho. Brevemente irei iniciar o meu percurso no mercado de trabalho e isso será um grande teste para a minha carreira desportiva. Veremos se terei a oportunidade de continuar a trilhar um caminho desportivo de exemplo e sucesso, como ambiciono.
RC > Filho de peixe sabe nadar. Acredita que o nome da família Carreira já está eternizado no atletismo distrital?
IC > O meu sentimento e o da minha família é que o mais importante é que a prática desportiva e o desporto seja agregador, motivo de boas práticas e exemplos. O desporto deve contribuir para a inserção, a igualdade, a participação na vida social, permitindo a tolerância, aceitação das diferenças e o respeito pelas regras e pelo outro. Alcobaça tem tido a sorte de ter muitos exemplos nesta área e é um concelho com um enorme potencial para, com trabalho e dedicação, elevar muitos clubes e jovens a marcarem a diferença e a contribuírem para uma comunidade cada vez melhor.
RC > Recentemente, assumiu também o papel de treinadora no Sporting. Como tem sido a experiência?
IC > É o reconhecimento pela minha competência, estudos e entrega na área desportiva. O grupo de treino tem sido fantástico, onde a aprendizagem tem sido mútua e é uma oportunidade para trabalhar com alguns dos melhores treinadores e atletas portugueses da atualidade e conhecer a realidade de um grande clube português.