Houve Sol em fevereiro e, tal como os caracóis, os Porsches de Alcobaça meteram os corninhos ao Sol. Houve também Carnaval, uma ocasião especial em que a cidade ressuscita no Rossio e na tenda. Eu nem ando de Porsche, nem fui jogar ao Carnaval, mas vou sempre à rua pela hora de almoço, ou porque me despacho do trabalho a essa hora; ou porque vou comprar comida; e vejo aquilo que os ricos, os políticos, os decisores não veem, porque não saem da toca subsidiada. E o que vejo eu? A cara triste dos alcobacenses a comerem, quase todos, uma mera sopa, com os olhos enfiados no telemóvel a ver as vistas e o que se passa: quem saiu do BB, se o Ventura cresceu de tal maneira que já nem cabe no país, as expulsões contra o Benfica, o macaco do Porto na jaula, o Sporting a despachar Bragas.
Aqui há uns tempos, um bancário muito rico passou por Lisboa e avaliou o estado económico da nação pela fila à porta da cervejaria Pinóquio. Ficou todo contente, afinal apesar do continuo assalto dos bancos à modéstia dos nossos cofres e colchões, o Português tinha guita para beber uma imperial e comer uma dose de amêijoa à bulhão pato. Mal sabia ele, porque não prestou muita atenção que essa fila era de estrangeiros (pois, já nem sequer nos distinguem, não é) e muito menos prestam atenção a um país já sem boas notícias e com um futuro que “ vamos a ver”, lendo a sua sina na sopa do snack bar e dos cafés que, na generosidade que caracteriza o nosso povo e mais ninguém, fazem menus a 5 e 6€, afinal o que uma pessoa pode pagar, mas que não daria nem para uma cesta de pão torrado nas cervejarias de Lisboa. Para além da sopa, há o regresso do consumo da heroína a céu aberto à Avenida de Ceuta, o bónus ao trabalhador que “agrava” impostos, os agricultores, os polícias. Uma coisa é certa, ganhe quem ganhar, governe-se quem se saiba governar, no dia 10 de março nunca teremos o que merecemos. Ou será exatamente ao contrário e vamos ter o que merecemos? Ninguém ainda sabe dizer, valha-nos a sopa.