Quem é quem?
Quem é Portugal?
Quem somos nós?
Um dia, tentei explicar isto mesmo a uma amiga brasileira “tens de ver que o português quer, mas não quer, gosta mas não gosta, aceita mas reprova…” Ela ficou confusa, mas eu, eu nasci confuso e assim se contam décadas e décadas a tentar perceber quem somos, desde Pessoa, o poeta, ao José Gil, o filósofo ou a Dona Ema dos pães.
Ninguém sabe ao certo.
Seremos aqueles que mandam sinais de luzes na autoestrada para sairmos da frente mesmo que a gente já vá em excesso de velocidade, ou aqueles que fingem não ver a enorme fila de pessoas à sua frente e as ultrapassam aos balcões das farmácias e pastelarias; ou ainda aqueloutros que raspam, raspam e raspam até que desistem da sorte e mandam vir cafés e imperiais para afogar o fado da má sorte?
Ou seremos aqueles que vão limpar as praias do Oeste, aqueles que, outrora, a uma só voz, com os artistas que agora desprezam nas redes, fizeram do salvamento de Timor desígnio social; ou aqueloutros que, apesar dos dois empregos, se enfiam na carrinha, três noites por semana para irem matar a fome aos sem-abrigos que as nossas ruas esqueceram?
Confesso que estou mais confuso do que nunca.
Os resultados das eleições não me ajudaram, já sei é lidar, tudo bem, vamos lá lidar então, mas gostava de saber com quem me cruzo na rua, com quem partilho um espaço, com quem conto e se ainda somos um país a sério.
É verdade: um relógio partido…dá as horas certas, duas vezes por dia.
Mas teremos todos nós agora de acertar o passo por ele?