Sábado, Julho 12, 2025
Sábado, Julho 12, 2025

Sónia Tavares, entre um croquete e Rossini

Data:

Partilhar artigo:

O rigor não é um valor em si mesmo, do mesmo modo que o “compreendermos sempre tudo” também o não é.

Gaspar Vaz

Rossini pode ser sempre um ótimo começo de conversa, por diversas razões, a começar pela culinária. Quem não conhece o conhecidíssimo “Tornedó Rossini”, em homenagem às qualidades culinárias do grande compositor italiano? Embora não esteja documentado que Rossini já conhecesse o croquete, por volta de 1817, não é de descartar essa hipótese, tal é a proximidade do tema da bem-humorada ópera desse ano, “La Gazza Ladra” e o inenarrável episódio que uniu, por estes últimos dias, Sónia Tavares, o Rock’n Rio Lisboa e a dita especialidade gastronómica.

Comecemos pela Gazza Ladra, uma “história verídica”. Ninetta, a protagonista, é levada a tribunal, acusada de ter roubado um garfo de prata. Considerada culpada, é condenada à morte. No dia do fatídico cumprimento da sentença, descobre-se que a ladra é uma ave (gazza = pega), que escondeu o objeto do seu furto no topo do campanário da aldeia. Foi o sol que, em batendo no garfo, salvou a vida de Ninetta.

O que se passou no Rock’in Rio daria (e dá) vontade de rir: afinal, já houve pedido de desculpas, a Sónia, entre o sério e o burlesco, defendeu-se, atacando com humor e bom gosto, já houve uma produção de piadas de muito bom nível que nos vai alimentar o riso durante semanas. No entanto, a Sónia defendeu-se e desmascarou uma situação inenarrável, muito à conta de ser a Sónia Tavares. Na verdade, há por aí outros exemplos de “castigos exemplares”, “defesa de valores e princípios”, em que um saco levado de graça, um chocolate fora de prazo… são “excelentes motivos” para testarmos a “solidez dos nossos princípios”.

Região de Cister - Assine já!

Fosse o croquete comido por gente menos à vontade com uma certa relatividade das coisas (que, ao contrário do que pensam alguns yuppies, pode ter conteúdo ético mais valioso do que a inflexibilidade…) e, se calhar, no seu anonimato, estava muito bem defendido o rigorismo ético.

O rigor não é um valor em si mesmo, do mesmo modo que o “compreendermos sempre tudo” também o não é. E, por uma questão sanitária, é avisado desconfiar de quem se submete a princípios absolutos, como se fossem âncoras de uma nova religião. Por isso, gosto de gente “imperfeita”, assim, como a Sónia.


AD Footer

Artigos Relacionados

Rodas d’Aço entregam cerca de 700 quilos de comida a famílias carenciadas

A associação Rodas d’Aço Motor Clube recolheu 690 quilos (!) de excedentes alimentares durante os nove dias das...

Armazém das Artes expõe as telas que o mar “dá” a Dino Luz

As telas que o mar dá a Dino Luz vão estar em exposição na galeria do Armazém das...

André Luís vive sonho como fisioterapeuta do Athletic Bilbao

Festejou os títulos de campeão nacional enquanto fisioterapeuta do Sporting, nas temporadas 2020/2021 e 2023/2024, mas quis o...

Atletismo: Beatriz Castelhano correu para o ouro nacional

Se dúvidas houvesse, já poucas restarão: Beatriz Castelhano (Arneirense) sagrou-se campeã nacional de 100 metros, no escalão de...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!