As instalações da MVC – Portuguese Limestones serviram de palco a uma sentida homenagem a Salgueiro Maia, na tarde de quarta-feira da passada semana, um dia depois da data de aniversário do capitão de Abril (1 de julho). A iniciativa partiu do escultor Carlos Oliveira, que, além de esculpir uma peça de arte em calcário da região, convidou o artista Rui Basílio para desenvolver uma obra com um registo diferente.
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“Sou um admirador de Salgueiro Maia, pelo que me foi transmitido desde criança. Queria fazer-lhe uma homenagem nos 50 anos do 25 de Abril e escolhi a sua data de aniversário para o momento não passar despercebido”, argumentou Carlos Oliveira, que começou a desenvolver a obra num bloco de pedra, designado “bordaleira”, com mais de oito toneladas.
“Peguei na natureza da pedra e fiz uma analogia com a genuína pureza do homenageado. Aproveitei a face possível de executar e consegui executar a ideia que pretendia, subtraindo mais de 1,5 toneladas ao bloco inicial”, explica o escultor. A peça será concluída ao vivo na Feira de São Bernardo. Rui Basílio foi convidado pelo escultor caldense a apresentar uma homenagem num registo diferente, aos olhos de alguém mais novo, que não viveu o 25 de Abril.
O portomosense apresentaria uma obra que foi iniciada de uma forma simbólica. “O meu trabalho partiu do pensamento que um tiro não tem de ser algo negativo. Pode ser o ponto de partida para alguma coisa. No 25 de Abril, Salgueiro Maia acabou por dar um tiro sem chumbo, que permitiu ativar uma nova fase em Portugal”, descreveu. “Dentro das leis, comecei a peça com um tiro, ficando marcados vários chumbos. Depois fiz a recriação e a multiplicação dos mesmos e consegui obter a reprodução do rosto através desse pontilhado”, detalha Rui Basílio, acrescentado que a obra e o processo de conceção metaforiza o que aconteceu em 1974. “Naquela época foi dado um tiro de revolta que permitiu termos um País livre como hoje conhecemos”, sublinhou o artista visual.
A MVC – Portuguese Limestones acompanhou a vontade de Carlos Oliveira, ofereceu a pedra e acolheu a cerimónia. O gerente da empresa, que foi soldado e conviveu pessoalmente com Salgueiro Maia durante cerca de um ano em Santarém, considerou que “a coragem, a dedicação e a luta pela liberdade” do capitão de Abril continuam a “marcar gerações”. Rogério Vigário vincou ainda que as obras em pedra são a eternização dos valores defendidos por Salgueiro Maia e deixou uma palavra sobre o trabalho da MVC. “Mostrámos que somos capazdes de unir pedra com arte, um verdadeiro jogo de palavras que reflete o nosso compromisso em transformar a pedra da região de Alcobaça em obras que honram grandes figuras do nosso País”, finalizou o empresário.
A homenagem culminou com uma interpretação da cantora Joana Rodrigues e com o músico Tiago da Neta. Entre momentos de interpretação e musicais, alusivos à temática do 25 de Abril, houve quem não escondesse a emoção.
Natércia Maia foi também homenageada
Numa plateia com mais de uma centena de pessoas, entre colaboradores da empresa MVC – Portuguese Limestones, presidentes da Câmara de Alcobaça, representantes da divisão de Caldas da Rainha da PSP e da Associação Salgueiro Maia, esteve uma convidada especial: a mulher do capitão Salgueiro Maia, Natércia Maia, que acabaria por receber também uma escultura de Carlos Oliveira.
Maravilhada e até surpreendida pela homenagem, a viúva de Salgueiro Maia partilhou com o REGIÃO DE CISTER o sentimento após ver as obras de arte, feitas com a pedra da região de Alcobaça, em tributo à figura importante da revolução que em 1974 derrubou a ditadura em Portugal. “Já tinha visto os trabalhos no telemóvel, mas não tinha noção da sua envergadura. Só um senhor como o Carlos Oliveira teria ambição para realizar algo tão grandioso. Gostei mesmo muito dos trabalhos porque comprova o amor e a admiração pelo Salgueiro Maia”, salientou Natércia Maia, que se confessou emocionada com os trabalhos.
“Fico muito contente porque vai mexer com as pessoas e, a nível de memória futura, vai despertar a curiosidade de ver quem foi e o que fez Salgueiro Maia, sendo ainda um incentivo para que haja atitudes que contribua para um País melhor”, acrescentou ainda a mulher de Salgueiro Maia.
Natércia Maia deixou ainda um alerta à população para a pró-atividade e para a luta pela defesa dos valores da sociedade. “Não devemos descansar e cruzar os braços como se a liberdade fosse um dado adquirido. Há sempre perigos que nos espreitam”.