As festas populares das cidades e das aldeias de Portugal são o seu mais brilhante sorriso. Configuram um tempo que, sem hierarquias ou classes, a todos pertence para fazermos o que bem dele entendemos. Em particular: fazer qualquer coisa que nos distraia das agruras da vida nos dias que não são de festa, e nos anime para o regresso ao trabalho, a maior parte das vezes mal pago e frustrante.
Por isso, este ano, atravessei a rua e embrenhei-me nas festas de São Bernardo. Jantei como um rei na “tasquinha” da Abesra Alpedriz, bebi cervejas tiradas por um bombeiro, comi farturas quentinhas, e passeei por entre carros topo de gama, material agrícola e lingerie aos molhos.
Depois, desci ao Rossio para visitar o meu professor de canto Paulo Ramos, que acompanhava o lendário Rui Veloso, e lá estive no “baile da paróquia” entre alcobacenses e não só, a beber imperiais e a ver as modas.
Regressei a casa, ainda giravam os carrosséis. Um pão com chouriço para ensopar a moderação do álcool e umas horas de sono até acordar e ir para Vilar de Mouros, para fazer eu o nobre papel de “entertainer” dos outros, porque tristezas não pagam dívidas e o mês de agosto nos é sempre querido.
Resolvido e bem o problema de som da primeira edição na Cova da Onça (que apontei para desgosto de tantos) a Feira de São Bernardo de 2024 foi aquilo que se espera deste eventos: uma festa que une e não separa, onde nos encontramos com as raízes do “ser português”.
Um ser associativista, que gosta de bailar, comer e beber e que nada tem a ver com as estatísticas e economias que nos caracterizam como preguiçosos, improdutivos e de más contas. Coisas que se esquecem na espuma de uma cerveja, no crocante de uma fartura, na sorte de uma rifa, no silêncio absoluto e quase religioso de quando acabam as festas e a vida recomeça.
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