Os desafios da indústria dos moldes, um dos setores âncora da região, estiveram em foco, no passado sábado, dia 12 de outubro, numa das unidades fabris do Grupo Socem, na Martingança, no âmbito do projeto “Made in Cister”, que o REGIÃO DE CISTER desenvolve há uma década. A iniciativa contou com a presença de cerca de 80 pessoas.
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O novo paradigma da indústria automóvel, principal cliente das empresas de moldes e cada vez mais afastada de combustíveis fósseis, levanta enormes desafios ao setor, que também sofreu os revés da pandemia e da guerra na Ucrânia. Por outro lado, a concorrência de países como a China dificultam a competitividade europeia e, em particular, portuguesa. “Um chinês consegue meter um molde em Portugal por metade do preço da matéria prima”, constata o administrador do Grupo Socem, Luís Febra.
Apesar do momento difícil, os números ajudam a explicar o peso do setor. Há 472 empresas de moldes em Portugal, sendo que 80% da produção é destinada à exportação para 86 países. O setor emprega perto de 10 mil pessoas. O retrato foi feito por João Faustino, presidente da Cefamol – Associação Nacional da Indústria de Moldes, que lembrou que a indústria nasceu no pós-guerra, há sete décadas, e que hoje coloca o País como 3.º principal fornecedor de moldes da Europa, depois da Alemanha e de Itália.
“A partir de 2010 o setor cresceu a dois dígitos por causa do crescimento da indústria automóvel, que precisava de muitos moldes e nos obrigou a crescer”, explica João Faustino. Ao invés, e mais recentemente, a redução da quantidade de modelos automóveis teve grande impacto na indústria, já que menos modelos é sinónimo de menos moldes. Por outro lado, há ainda menos componentes por veículo, o que também reduz a quantidade de moldes necessários.
Sendo que os países europeus são os principais clientes dos moldes portugueses, o País enfrenta ainda o peso da distância para o centro da Europa. “Falamos de mais de 3 mil quilómetros”, resume o presidente da Cefamol. A todas as condicionantes juntam-se “o aumento dos custos de produção e das taxas de juro”.
A falta de mão de obra especializada é outro dos desafios que as empresas de moldes enfrentam. “O curso de Engenharia de Polímetros não teve alunos”, exemplifica o também empresário, que acrescenta o problema da continuidade.
Parte da solução pode estar em produzir moldes para setores alternativos ao da indústria automóvel, de que é exemplo a indústria médica. Já o método de trabalho está bem identificado. Inovação, tecnologia, networking, design for manufactoring, know how e recurso a ferramentas competitivas são os ingredientes para moldes bem sucedidos. Por outro lado, defende João Faustino, as empresas devem unir-se para ganhar escala “nas compras, na produtividade e no desenvolvimento do conhecimento”. O dirigente reconhece que “há empresas que já estão a fazê-lo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”.
Durante a sessão, Luís Febra defendeu a criação de um centro tecnológico na região de Leiria. “Temos dimensão, coragem e audácia para fazer melhor” acredita o empresário.
A Cefamol mantém a luta pelas empresas do setor. “Andamos a conversar com a União Europeia para taxar os moldes da China em 30 a 35%”, garante João Faustino.
O Instituto Politécnico de Leiria tem uma palavra a dizer. “Queremos criar um centro de competências, com empresas âncora que ajudem a reter talento, sob pena de perdemos a capacidade crítica e talentos”, explicou o presidente, Carlos Rabadão. Também o Centimfe – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos é um parceiro fundamental das empresas, como descreveu a coordenadora da área de inovação empresarial, Cristina Crespo. O trabalho do Centimfe na área da investigação em tecnologia de ponta tem um importante papel na otimização de processos e redução de desperdício, ao mesmo tempo que encontra soluções no chão de fábrica, por meio de projetos como o CoVE – Centro de Excelência Profissional – Fábrica de Competências do Futuro.
Diretora do REGIÃO DE CISTER pede apoio ao jornalismo
A diretora do REGIÃO DE CISTER, que fez a sessão de abertura da conferência, pediu um maior apoio ao jornalismo local.
“Hoje, o setor dos moldes vive um período de grandes incertezas e de muitas expectativas, mas o mesmo poderei dizer da imprensa regional”, referiu Sara Vieira, agradecendo aos parceiros e entidades envolvidas na realização da conferência “Made in Cister”, dedicada aos moldes. “Sou jornalista há 15 anos e, pelo menos, há 15 anos que o setor vive com a corda na garganta. É, por isso, que os jornais precisam de se reinventar, fazendo iniciativas como o ‘Made in Cister’, e é também por isso que somos cada vez menos a fazer cada vez mais”, referiu a jornalista. “O que vos queria pedir hoje é que olhem para jornais como o região de cister como um aliado do desenvolvimento regional e que apoiem o jornalismo local”, rematou.
Presidente da Câmara elogia resiliência do setor
“Atravessamos dificuldades, mas se há setor resiliente é o dos moldes, onde os empresários têm visão estratégica”, elogiou o presidente da Câmara de Alcobaça durante a sessão de boas-vindas da conferência, lembrando o efeito bola de neve ao afirmar que “quando há crise nos moldes, a seguir há uma crise financeira”.
Hermínio Rodrigues, que abraçou, desde a primeira hora, o projeto editorial “Made in Cister” e elogiou a iniciativa do REGIÃO DE CISTER, sublinhou a importância da iniciativa que juntou na mesma mesa empresários, associações, Governo e Câmara.
“Os moldes e a alta tecnologia são maior importância para o País. Trazem valor acrescentado. Basta ver o nível de vida que os moldes conseguem dar aos funcionários”, referiu o edil, para quem, o município de Alcobaça, “a nível económico, é do melhor que há no País.
Conferência motiva marcação de reunião entre Governo, empresas e associações
As “provocações” vieram do lado dos empresários, no decorrer da conferência dedicada aos moldes. Depois de ouvir que “Portugal não tem estratégia”, “andamos ao sabor do vento” e que “se o setor dos moldes tivesse sido acarinhado pelo País, hoje tinhamos o maior cluster”, o secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, a quem coube o encerramento da conferência “Made in Cister” dedicada aos moldes, desafiou empresários e associações a apresentarem uma estratégia para os moldes, numa reunião agendada para o próximo mês de dezembro.
“Têm um mês e meio para vir ter comigo para trabalharmos num roteiro para a promoção estratégica dos moldes”, incitou Hélder Reis, que não poupou elogios à iniciativa do semanário REGIÃO DE CISTER. Aliás, o maiorguense participou na primeira iniciativa do género, em 2014, quando o Made in Cister foi dedicado à indústria cerâmica, cuja conferência pública decorreu na SPAL.
O governante lembrou que o Governo ainda tem pela frente a aprovação do Orçamento do Estado para 2025 e que qualquer compromisso dependerá desse fator. “O Governo quer saber o que querem, que caminho querem”, disse Hélder Reis, que libertou a agenda de 3 a 5 de dezembro.
O secretário de Estado, que assistiu à apresentação de todos os oradores – exceto quando se ausentou para tratar da reunião depois anunciada –, garantiu “estar ao lado dos empresários” e lembrou que já há candidaturas aprovadas no âmbito do Portugal 2030.
O responsável da pasta do Planeamento e Desenvolvimento Regional lembrou que “há 15 anos Portugal estava na bancarrota, o que exigiu um esforço de todos, seguiu-se uma pandemia, conflitos militares à porta da Europa e no Médio Oriente e a consequente perda do poder de compra”, um cenário que o Governo quer contrariar, pela redução das assimetrias regionais. “Tempos incertos que vivemos, mas na incerteza temos de criar as condições para potenciar as nossas regiões e as nossas empresas”, destacou Hélder Reis, para quem “o poder local e central devem implementar medidas” de forma a atingir o objetivo. “Promover o investimento empresarial e público, reforçar as infraestruturas públicas, a educação dos jovens e a formação dos adultos, reduzir as assimetrias regionais, simplificar os processos administrativos – também tenho de deixar de recados –, apostar na inovação, combater a corrupção, promover a sustentabilidade ambiental” foram algumas das medidas apontadas pelo maiorguense, com a ambição de criar “uma região e um país melhor durante a próxima década”.
“Há sempre mais a fazer e sempre mais a melhorar. Basta ver a primeira página da última edição do REGIÃO DE CISTER – “Salários da região abaixo da média nacional“ – para perceber que ainda temos pela frente“, referiu o governante. Para o secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, “as assimetrias devem ser reduzidas“ e “haver um trabalho conjunto para essa convergência de salários”.
“Incerteza terá sido a palavra mais usada nesta conferência, seja para a indústria dos moldes ou para qualquer outra indústria, para o nosso país ou para qualquer outro país. Já sabemos que quando a Alemanha está doente, a Europa fica constipada”, referiu Hélder Reis.
Praticamente em casa, o secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional confessou ainda ser um leitor do REGIÃO DE CISTER, que chega a casa dos pais, na Maiorga, semanalmente.
Voidster da Politécnico de Leiria exposto na conferência
O Voidster (modelo T24e), o primeiro carro 100% elétrico e com condução autónoma, construído pela equipa Leiria Academic Racing Team, do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), também esteve em exposição no Centro de Ensaios do Grupo Socém, onde decorreu a conferência Made in Cister, atraindo muitos olhares curiosos.
O bólide do IPL atinge os 100 km/h em apenas 4,3 segundos, contando com uma massa total de cerca de 260 quilogramas, movido por um motor limitado a 80 kW de potência (110 cavalos). O Voidster estreou-se na Formula Student Portugal 2024, a maior competição internacional dirigida a estudantes de engenharia de todo o mundo, que se realizou nos passados dias 3 e 7 de setembro, em Castelo Branco.
Projeto “Made in Cister”
Depois da cerâmica, das pescas, da fruticultura, do calçado e marroquinaria e da pedra, o REGIÃO DE CISTER colocou o foco na indústria de moldes. A iniciativa surge no âmbito do projeto editorial “Made in Cister”, criado em 2014, que tem como objetivo reconhecer e valorizar os setores económicos mais representativos da chamada região de Cister, que inclui os concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós.
A par da conferência pública, que tem a particularidade de se realizar fora dos auditórios tradicionais, o projeto inclui a publicação de uma revista (distribuída gratuitamente com a edição do jornal) e a exibição de um documentário sobre o setor em análise durante a conferência.