Nasceu em 1967, em Chiqueda, pelas mãos de Deolinda Branco da Silva e de Estevão Cristóvão da Silva, um casal que fazia criação de gado e que decidiu abrir um estabelecimento próprio. Hoje, volvidos 57 anos, é pelas mãos das três filhas [Anabela, Isabel e Maria José Branco, de 54, 57 e 60 anos, respetivamente] que o Talho Ponte Jardim mantém as portas abertas, num espaço que, diz-se por aí, tem “a melhor morcela do mundo” e que é uma verdadeira demonstração de amor aos (já falecidos) pais.
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“Crescemos aqui, era neste espaço que a família se reunia todos os dias e é um símbolo da nossa história”, explica Isabel Branco ao REGIÃO DE CISTER, afirmando tratar-se de uma “herança familiar” que fazem questão de prolongar por mais anos. “Todas nós trabalhámos aqui”, acrescenta Anabela Branco, ela que é a única das três irmãs a laborar a tempo inteiro no estabelecimento. Isabel é enfermeira e Maria José trabalha na Escola Básica 2/3 D. Pedro I, em Alcobaça. Todavia, sempre que é necessário, todas continuam a saber desmanchar carne e a proporcionar o melhor atendimento aos clientes.
E se o trio tem já experiência vasta, fruto do que aprenderam desde pequenas com os fundadores daquela casa com história, o mesmo poderá dizer-se dos netos, que também dão uma ajuda sempre que é preciso. “Sempre que pode, a minha Mariana dá uma ajuda à sexta-feira”, avança Isabel, ressalvando que todos ajudam quando podem. “Quando são épocas de maior fluxo de vendas todos ajudamos”, conta, referindo-se ao Natal, Páscoa e a outras épocas festivas.
Sobre o legado que têm em mãos, o significado, sublinham, é imenso. “Sabemos que se os nossos pais nos deram a melhor formação e educação, muito se deve aos clientes que ajudaram o negócio a manter-se de boa saúde”, frisou, asseverando que “os clientes são tratados pelo nome” e que existe “um trato carinhoso com a maior parte deles”.
“Afinal, muitos deles viram-nos crescer e agora somos nós que também vemos crescer as suas famílias”, justifica Anabela, contando que hoje em dia, as gerações mais novas, que moram em Lisboa e noutros pontos do País, vão ali “aviar-se ao fim de semana porque sabem da qualidade das carnes e dos enchidos”. “Aproveitam quando vêm a Alcobaça para se abastecerem para a semana”, acrescenta.
Aos longo de quase seis décadas, os enchidos do Talho Ponte Jardim – a morcela, sobretudo – fizeram e têm feito as honras da casa. O histórico socialista Mário Soares foi um dos que ficou “fã”. “Há vários anos, o filho [João Soares] era presidente da Câmara de Lisboa e havia uma senhora de Alcobaça que trabalhava lá e levou daqui as nossas morcelas. Todos provaram e ficaram conhecidas, sendo muitas vezes comida na casa do senhor Mário Soares. O filho até lhe chamava o ‘veneno’ de Alcobaça”, graceja Isabel, num tom melancólico pelas várias peripécias que foram acontecendo ao longo dos 57 anos. O futuro, esse, é claro: manter a casa aberta, manter a qualidade do serviço e dos produtos e… honrar a memória dos pais. Se possível, com os netos a prolongar o legado familiar. “Acreditamos que vai acontecer”, completaram as manas. Sorridentes, pois claro.