A Europa perdeu importância estratégica, os “motores europeus” (Alemanha e França) dão sinais de fraqueza.
Gaspar Vaz
Sempre levei muito a sério estudos comparativos sobre a educação. De facto, sem eles, mesmos que criticáveis, nunca saberemos se estamos a fazer bem ou mal, em que direção nos movemos. Por isso, mesmo os primeiros “Rankings das Escolas” sempre mereceram a minha atenção.
No mesmo sentido, com a supervisão de dois grandíssimos quadros do ensino público – “os Nunos”, Profs. Nuno Duarte e Nuno Água – instituí o “Observatório da Comunidade Educativa”. A sua contribuição para a fiabilidade e justiça das avaliações foi reconhecida a vários níveis, sobretudo externamente. Assim, PISA, TIMMS, PIRLS sempre foram bem acolhidos em Cister, fosse qual fosse a cor do governo em causa. Como deverá ser do conhecimento geral, nestes estudos, as escolas não são avaliadas, pelo que o interesse particular não conta.
Desde 2000, os resultados de Portugal têm sido coerentes, oscilando entre os 454 pontos de 2000 e os 472 de 2022. Em termos de rankings, acontece quase o mesmo. Os 454 pontos de 2000 corresponderam ao 23º lugar, enquanto os 472 pontos de 2022 nos deram o 29º lugar. Pelo meio, fica o pior lugar (35º), em 2006, com 466 pontos – bem acima do melhor lugar (23º), em 2000.
Se quisermos continuar nesta “quantofrenia”, veremos que países comparáveis não conseguiram melhor. A Finlândia, no mesmo período, desce de 5º para 20º lugar, a Noruega, de 13º para o 32º lugar, a Bulgária de 28º para 49º lugar, a Roménia, do 20º para o 45º lugar…. Há, porém, outros resultados que deveriam concitar as nossas preocupações. Neste período, o mundo voltou-se para Oriente: em 2022, os 6 primeiros classificados são asiáticos: Singapura, Macau, Taiwan, Japão, Coreia do Sul e Hong Kong, com a China escondida… A Europa perdeu importância estratégica, os “motores europeus” (Alemanha e França) dão sinais de fraqueza. O Reino Unido ajudou à festa com um Brexit completamente irresponsável e narcísico. Mas a festa continuou com uma mentalidade woke a tomar conta de todas as ocorrências. Convencida da sua superioridade moral, não a discutiu: semanas de 4 dias, pois claro! ; empatia, pois claro!; classificação, que horror, nunca!; avaliação, sim, mas sem testes!; Elites? Está a gozar, não?… No entanto, todos estes valores são afirmados no contexto de uma sociedade cada vez mais desigual.
Agora, como anticlímax, aparece Trump. Ainda iremos a tempo? Claro que sim: proibido é desistir!