Então não será mais agradável dizer de alguém que “está bonito”, “escreveu bem” ou “teve coragem” do que comentar “não gosto dele” “é um canalha” ou “é arrogante”, já para não falar de outros vitupérios que, de tão tóxicos, dizem mais de quem os profere do que do seu alvo?
Susana Santos
Porque será que é mais comum assistirmos a grandes críticas do que a grandes elogios? Seja nas redes sociais, onde livremente se comentam a vida, as opiniões e o carácter de quem se conhece e, mais frequentemente, de quem se desconhece, seja nas conversas de café, parece ser mais fácil censurar do que fazer uma apreciação positiva. Isto faz-me espécie e, ao longo destas férias fartei-me de ouvir conversas que me levaram a refletir sobre isto. Então não será mais agradável dizer de alguém que “está bonito”, “escreveu bem” ou “teve coragem” do que comentar “não gosto dele” “é um canalha” ou “é arrogante”, já para não falar de outros vitupérios que, de tão tóxicos, dizem mais de quem os profere do que do seu alvo? Não escolhi estes exemplos por acaso. Quase sempre as notas positivas se limitam a uma imagem, uma opinião ou um texto. São elogios circunscritos àquele momento. Já quando é para dizer mal, toma-se a parte pelo todo: a pessoa não está suja, é porca, não escreveu mal, é burra, não teve pouca coragem, é cobarde.
E todos sabemos que uma circunstância apenas não basta para definir o carácter de alguém. Basta ler as biografias dos grandes do nosso mundo para constatarmos isso mesmo. Heróis, poetas, filósofos, líderes políticos e militares, artistas, visionários, escritores e cientistas, são pessoas que, por atos valorosos se foram da lei da morte libertando, como diz o nosso poeta maior. Mas mesmo estes exemplos ostentavam muitos defeitos. Uns tinham grandes vícios, outros episódios de violência, outros ainda eram grandes sovinas. Todos, todos cometeram erros. No entanto nenhuma destas características os definiu ou os imortalizou. Os atributos que nos inspiram e que os transformaram em imortais são outros. E são esses que vale a pena comentar, seja para nos servirem de exemplo, seja para aprendermos com eles. Isto de nos fixarmos só no que ou outros têm de menos bom, levam-nos a piorar também. Em suma, e perdoem-me o moralismo de trazer por casa, como me diz tantas vezes uma grande amiga, se puderes dizer bem de alguém, fala, se não, cala-te!