Domingo, Janeiro 12, 2025
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Heróis da Luta contra a Covid-19: Luciano Rodrigues, voluntário

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Há dois anos que não sabe o que são horários, divide tudo o que tem com quem mais precisa e dorme com o telemóvel na cabeceira porque “os pedidos de apoio não se regem pelo relógio”. Diz que é pago em sorrisos de quem tudo perdeu, mas que se recusa a baixar os braços. Ainda assim, o sãomartinhense Luciano Rodrigues recusa usar a “capa” de herói solidário porque acredita que todos os cidadãos têm capacidade de apoiar o próximo. Basta “ter bom coração, ser honesto e colocar a necessidade do outro acima da sua”.

Há dois anos que não sabe o que são horários, divide tudo o que tem com quem mais precisa e dorme com o telemóvel na cabeceira porque “os pedidos de apoio não se regem pelo relógio”. Diz que é pago em sorrisos de quem tudo perdeu, mas que se recusa a baixar os braços. Ainda assim, o sãomartinhense Luciano Rodrigues recusa usar a “capa” de herói solidário porque acredita que todos os cidadãos têm capacidade de apoiar o próximo. Basta “ter bom coração, ser honesto e colocar a necessidade do outro acima da sua”.

Foi em 2018 que o proprietário de um restaurante na vila de São Martinho começou a dar os primeiros passos no voluntariado. “No período de inverno os trabalhos sazonais diminuem e várias pessoas procuraram o meu restaurante para oferecer serviços pontuais como limpar vidros ou ajudar nas limpezas após o fim do serviço. Deixavam o contacto e antes de irem embora perguntavam sempre se não havia um prato de comida”, recorda. Perante o crescente número de solicitações, Luciano Rodrigues iniciou uma espécie de cozinha solidária, que entregava os excedentes alimentares do dia às famílias carenciadas da freguesia de São Martinho do Porto. O “passa palavra” levou à necessidade de criação de uma lista de contactos de pessoas que, apesar da vergonha, não tinham outra opção senão recorrer à solidariedade. “Muitas vezes pensamos que quem solicita este tipo de apoios não quer trabalhar ou tem alguma dependência. Mas isso está longe da verdade e isso foi ainda mais enaltecido com a pandemia”, assegura.

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Com a chegada do surto e com o aumento exponencial de pedido de apoios, Luciano Rodrigues, em parceria com um amigo, criou uma “central” no Centro Paroquial de São Martinho do Porto, onde produzem os cabazes e entregam, de forma individual e sigilosa, os bens às famílias. Embora todas as situações de carência sejam de lamentar, aquelas que envolvem agregados familiares com crianças são para o voluntário as mais “penosas”. “Nenhuma criança deve passar por situação de carência alimentar. Nenhuma criança deve ouvir o pai dizer que não tem dinheiro para colocar um prato de comida na mesa ou para pagar um copo de leite”, declara o sãomartinhense, emocionado. Esta é uma realidade bem conhecida de Luciano Rodrigues, um de seis de irmãos, que viram o pai “lutar arduamente” para garantir o alimento diário da família. “A estas famílias peço que não tenham vergonha. Que liguem às horas necessárias porque eu não ficaria bem comigo próprio sabendo que em alguma casa da nossa freguesia está uma criança a tentar enganar a fome com o sono”, adianta.

O apoio e a compreensão da família são fatores indispensáveis nesta missão de tentar salvar o mundo… ou pelo dar um pequeno contributo nesse sentido. A qualquer hora o telefone pode tocar e Luciano Rodrigues é “obrigado” a responder ao pedido de ajuda. No entanto são as histórias felizes que fazem “tudo valer a pena”. Como a de uma família que solicitou o apoio por estar sem rendimentos devido à pandemia e que, meses depois, retribuiu com a entrega de um cabaz à central. “Já vi tanta miséria, que por vezes é difícil esconder as lágrimas perante as pessoas. Mas não consigo explicar o sentimento de felicidade quando meses mais tarde nos reencontramos e estão finalmente de pé”, confessa.

Ser solidário não é fácil e coloca tudo em perspetiva. O que temos e o que consideramos imprescindível. Mas Luciano Rodrigues assegura que, acima de tudo, é “gratificante”. “Não há ser mais ou menos voluntário. Melhor ou pior. Neste caso tudo o que fazemos tem impacto na vida do outro e isso é o que verdadeiramente importa. Temos de dar a mão a quem precisa porque o mundo dá voltas e um dia podemos ser nós a precisar”, conclui Luciano Rodrigues, que veste a capa invísivel de “herói voluntário”.

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