Quando a principal via de comunicação que unia o norte e o sul do país, no litoral atlântico passava por Alcobaça, o país inteiro conhecia a nossa vila cisterciense, a sua doçaria conventual, os queijinhos frescos e as maçãs doces como só a nossa terra produz.
Vinha-se de Lisboa a Alfeizerão para experimentar esse pão-de-ló extraordinário e parava-se no Bau para um café de frente para o Mosteiro.
S. Martinho do Porto era então o bidé das marquesas da nossa magra aristocracia e as nossas termas traziam a banhos os burgueses das grandes urbes.
Entretanto as novas vias de comunicação, designadamente a A1, atiraram os viageiros para trás da Serra e Alcobaça, feita cidade sem razão para tal, as suas praias e os seus tesouros foram caindo no esquecimento ou, pior ainda, não chegaram a entrar no imaginário dos portugueses mais novos.
Se é certo que não se pode seguir em frente olhando sempre para trás, também é verdade que não se pode avançar em segurança sem olhar o retrovisor. E este espelho mostra-nos o que fizemos bem e que importa estimar e também nos mostra um caminho de saberes que só nós percorremos.
E o que vejo agora são bons exemplos desse equilíbrio entre o valor do passado e da necessária inovação, produtos que se diferenciam porque são de Alcobaça e porque trazem consigo a herança de séculos de sabedoria, e que querem competir pela excelência e não pela mediania indiferenciada do que se faz em todo o lado.
Conheço tantos exemplos que nos fazem rebentar de orgulho, mas permitam-me destacar as velhinhas e agora reinventadas seiras do Toino Abel, os doces conventuais da Alcôa, o Pão do André e todos os outros pães caseiros com forno varrido a aroeira, o vinho da Quinta dos Capuchos, a Maçã de Alcobaça e os respetivos sumos, a nossas chita, a ginja MSR e a novíssima Granja de Cister onde em boa hora uma equipa dinâmica e inteligente decidiu apostar na promoção de todos estes e de outros tantos produtos superiores e únicos.
Mas ainda há muito por fazer, temos de saber reclamar e promover o que é nosso, os queijinhos frescos, os verdadeiros que são os de Alcobaça, o frango na Púcara, tão tradicional quanto ausente da maioria dos restaurantes da região, a nossa cerâmica, as nossas bandas filarmónicas e, mais importante que tudo, falta sabermos que a nossa marca vem de longe, e que para a podermos exibir, temos de a saber diferenciar.