Não faltariam bons / maus motivos para esta croniqueta: o coronavírus e as teses negacionistas, “JJ: o regresso de um renegado” (em breve na Netflix…), a saga pérfida do Novo Banco, a libertação (muito) tardia de Rui Pinto, a “cena” do Olavo Bilac com o André Ventura… Tudo isto, porém, seriam escritos de azia, canções de maldizer – ou, no mínimo, de escárnio.
Hoje, porém, não estou virado para a azia.
Na verdade, pouco antes de ter entrado de férias (mais precisamente, já dentro delas), tive uma reunião com um grupo de pais de uma das nossas muitas escolas. Para além da informação que tinham sobre a questão em debate, da observância de todas as regras de etiqueta em uso, manifestaram uma cultura cívica digna de nota. Mas, para além disso, era um grupo elegante, bonito, com gente arejada, nada parecida com aquele soturno estereótipo do português médio de há trinta ou quarenta anos. Tive que lhes dizer isto mesmo: muito obrigado por serem a demonstração de que a educação é o mais eficaz ascensor social.
Por estes dias, tenho umas pequenas obras em casa: nem vos digo o tormento que têm sido. No entanto, no meio dessa incrível desordem e alguns percalços, há muitas cantigas de bendizer para escrever. Em primeiro lugar, as técnicas de construção são sedutoras pela polivalência, qualidade e ligação aos nossos materiais, não requerem quase nada de produtos importados, segundo me pareceu.
Porém, o que mais me tocou foi a qualidade, humana e profissional, dos trabalhadores. Um deles, no dia dos meus anos, teve a amabilidade de me tocar com o cotovelo e desejar-me parabéns, logo de manhã. Isto não tem nada a ver com a nossa triste tradição. Para além deste caso singular, a verdade é que, de um modo geral, são gente comprometida com a sua profissão, recusando bebidas tão “naturais” como uma “cervejita”, com métodos de trabalho, com observância de horário…
Esta gente, ao contrário daquela gente aziaga, acima referida, dá-me vontade de escrever cantigas de amigo. Ou de bendizer, se as houvesse, in illo tempore.