Grande parte do que fazemos, com excepção do que o instinto nos ordena ou o corpo comanda, advém de convenções sociais.
Dentro delas há leis, códigos de conduta, de valores de trabalho e de comportamento, modas, costumes e mais todas as necessidades e ambições que absorvemos ou nos impõem, ensinam, sugerem…
No primeiro ano de pandemia aprendemos a parar, quando nada, na vertigem dos nossos dias, faria prever aquela travagem de prego a fundo. Neste segundo ano, que é o segundo acto da nova ordem, aprendemos a viver devagar.
Neste fim de férias, até o vento nos deu tréguas no oeste e o recomeço parece anunciar uma nova velocidade.
Se calhar não é preciso oferecer tanta distração às crianças, se calhar não precisamos de tantos programas, se calhar, metade dos nossos compromissos podem resolver-se num simples telefonema.
Aprender a viver devagar não é viver menos, nem conversar menos, nem trabalhar menos.
Para mim, viver devagar tem significado, apenas, correr menos e caminhar mais. Falar menos e ouvir mais. Opinar menos e reflectir mais, enfim, procurar menos e encontrar mais.
Ou talvez, como nos nos versos de Pessoa, “Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima…”
Ou talvez esteja enganada e essa seja a verdadeira lição para aprender a viver devagar, que é saber que me posso enganar…
P.S. Escrevo e partilho este texto numa das nossas praias do Oeste, no meu último dia de férias, abençoado por um céu azul intenso, salpicado de algodão, com uma lua transparente e um sol ameno, ao lado de uma serra sempre verde, com areia grossa e doirada e um mar que, na ausência do vento, se transformou num lençol de seda cintilante. Sim, vale a pena viver devagar para ver tudo isto!