Nasceu em Óbidos, mas a Benedita tem um lugar especial no seu coração. Falamos de João Leitão Vinagre, engenheiro civil, hoje reformado, que aos 77 anos lançou a obra “A Benedita do Século XVII no Registo Paroquial”.
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Grande parte da família paterna é natural da Benedita, para onde se mudou aos 6 anos. A infância e adolescência foram ali passadas. Ou, em bom rigor, parte delas. No período das férias, mais concretamente. Porque durante cerca de 12 anos esteve, em regime de internato, nos seminários de Santarém, Almada e Olivais, pertencentes ao Patriarcado de Lisboa.
Depois disso, foi estudar para o Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde se licenciou em Engenharia Civil. A vida deste “beneditense de coração” foi feita, maioritariamente, na capital, onde, durante mais de 30 anos, teve uma empresa de construção civil que fazia obras de norte a sul do País. Mas a Benedita esteve sempre presente. Na alma e no coração.
E foi, em grande parte, por esse motivo – sem esquecer o “infindável apreço” que tem pelas gentes beneditenses–, que decidiu investigar e publicar recentemente a obra, que teve honras de apresentação na Junta da Benedita, no passado mês de julho. “A Benedita diz-me muito. Tenho lá bastantes familiares, sobretudo do lado paterno. Não é por acaso que digo sempre que sou da Benedita. Trata-se de uma terra de gente trabalhadora, empreendedora, e que era a única, antigamente, que tinha duas profissões sem ordenado fixo, como eram os casos dos sapateiros e dos canteiros. Serve o exemplo para ilustrar o quanto as pessoas tinham de trabalhar, porque quanto mais trabalhassem, e melhor, mais ganhavam”, conta João Leitão Vinagre ao REGIÃO DE CISTER.
Na obra, prefaciada por Fernando Maurício, são perpetuadas por escrito algumas curiosidades sobre a Benedita, como o facto de o Bairro da Figueira ser, no século XVII, o local mais povoado da freguesia. Na essência da obra que publicou está, acima de tudo, o orgulho que sente pelas pessoas da Benedita. E mesmo não sendo natural da freguesia, João Leitão Vinagre exulta uma costela beneditense.
E que lembranças tem, afinal, da Benedita? “As melhores. As melhores recordações de uma infância e de uma adolescência feliz. Era lá que passava todos os períodos de férias e lembro-me de tempos saudosos, onde passeávamos pelas ruas e íamos a casa das pessoas, que tinham uma grande hospitalidade”, recorda com saudade.
“A Benedita era uma zona muito pobre, onde as pessoas tinham de olhar pelas suas famílias e pelas suas terras para conseguirem ter comida na mesa. Foram habituadas a viverem para si e, basicamente, a desenrascarem-se. E isso é muito da génese do que se diz hoje, de que a Benedita é uma terra de trabalho e de empreendedorismo. Com a adenda de que, já no século XX, a Benedita desenvolveu a indústria e… foi o melhor que podia ter acontecido”, explica o engenheiro civil, que continua a viver em Oeiras, que tem casa na Foz do Arelho, em Caldas da Rainha, onde vai regularmente, mas que se orgulha de poder apelidar-se de beneditense.