Domingo, Maio 5, 2024
Domingo, Maio 5, 2024

Adolescentes mais ansiosos

Data:

Partilhar artigo:

As recentes conclusões do estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde dão conta daquilo que já observamos na prática clínica, e que torna imperativo refletirmos: o estado mental e psicológico dos adolescentes está mais debilitado, atribuindo-se muito desse estado à pandemia.

Há um acréscimo de diagnósticos de ansiedade e depressão nos adolescentes, e de sintomas como dificuldades em dormir, dificuldades ao nível da socialização (sentimento de pertença) e um maior sentimento de infelicidade. Esse sentimento é que o mais tem caracterizado a procura à consulta de psicologia. A determinado momento da vida, adulta, do individuo é normal questionar-se sobre a sua vida, sentimento de vazio e desejo de inexistência, no entanto, é catastrófico haver adolescentes com esse sentimento. O adulto poderá passar por esse momento como algo renovador, a oportunidade de mudança para uma existência com sentido, o adolescente não tem a vivência nem a maturidade para essa transformação: há só um “nada”. Atente-se: num e noutro caso é importante o apoio psicológico/psicoterapêutico.

Comparativamente com o estudo realizado em 2018, há também um maior sentimento dos jovens de menor apoio familiar e maior perceção de que estão sozinhos. Em 2020, quando confinamos, alguém me questionou “achas que os jovens vão desenvolver perturbações como ansiedade e ficar mal?” Respondi: “com muita probabilidade desenvolverão maiores níveis de ansiedade e de outras perturbações, no entanto, tudo terá a ver como está a ‘saúde mental e relacional’ dessa família, como é a relação com os pais, como esses pais estão ao nível da sua própria saúde psicológica e se relacionam no seio familiar”. A verdade, é que os dados apresentados sobre os adolescentes poderiam ser apresentados sobre os adultos: mais ansiedade, mais depressão, mais tendência ao isolamento, mais desconexão, muito mais ligação às redes sociais.

Região de Cister - Assine Já!

O adolescente é, muitas vezes, o reflexo do que se passa, ou MASCARA, no seio familiar, aquilo que é óbvio, e sobretudo, o que não é óbvio no seio familiar, a forma como cada um dos elementos vive a sua vida, como está psicologicamente e como se relacionam entre si. Por vezes, é o adolescente que revela problemas psicológicos ou psiquiátricos, mas o cesto total (família) está doente na sua forma de interação. Presos nas suas próprias angústias, estados depressivos mascarados – ou não -, frustrações de uma vida corrida ou vazia, ou simplesmente num deixa-andar acutilante para adolescentes que precisam ser olhados e sentidos.

Quantas das famílias (pais) se sentam num final do dia para estarem na sala com os seus filhos? Quantos conversam realmente sobre os seus dias, mais do que questionamentos e pressões? Quantos tentam ver e perceber que “coisas” andam eles a ver, a acompanhar nas redes sociais e nas “Netflix desta vida”? Há um mundo incontrolável fora de cada casa: a internet. Não há como conseguir-se controlar todas as conversas, o mundo que se passa em cada adolescente com acesso à internet. Há mundos paralelos a acontecer em cada um, seria pedir o impossível que os pais conseguissem controlar isso. Mas é possível, pelo menos, ir estando atento, conversar, para que possam por algum tempo não estar presos ao consumo viciante às redes e aplicações. Manter regras em casa, sobretudo do não uso das tecnologias antes de ir dormir.
Este não é um problema dos adolescentes: é de uma sociedade, de cada um de nós. Acordar para a vida, implica querer saber de si mesmo, responsabilizar-se e não permitir achar-se que os outros ou alguém tem que determinar o que quer fazer da sua vida. Quando os adolescentes tiverem como referência adultos com identidade, com responsabilidade pelas escolhas que fazem, mais autênticos, talvez se sintam mais seguros, protegidos, e a saber que podem confiar, porque da mesma forma que esses adultos têm consciência de si mesmos, liderem pela referência.

AD Footer

Artigos Relacionados

Câmara de Alcobaça quer reclassificar monumento na Cela Velha

A Câmara de Alcobaça pretende reclassificar como monumento nacional a escultura edificada por José Aurélio, na Cela Velha,...

Venda de lotes na ALEB deverá começar a partir de setembro

A obra de construção da Área de Localização Empresarial da Benedita (ALEB) deverá ficar concluída ainda durante este...

Museu das Máquinas Falantes inaugurado em Alcobaça

Foi com pompa e circunstância que o Museu das Máquinas Falantes, em Alcobaça, foi inaugurado, na passada quinta-feira....

Parque infantil em forma de barco instalado na praia de São Martinho do Porto

As crianças que façam praia na baía de São Martinho do Porto têm, desde o passado dia 19...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!