Nos nossos dias, olhamos com nostalgia para esse passado que nos acompanhou durante tanto tempo, mas temos dificuldade em recordar as profissões que permaneceram conosco apenas algumas décadas.
Susana Santos
Há 32 anos que este jornal acompanha de perto a vida das nossas comunidades e decidiu comemorar a data recordando os ofícios de antigamente. Faz bem, obriga-nos a refletir sobre o tempo e, no meu caso, sobre a velocidade do nosso tempo.
A vertigem da mudança em que vivemos e ainda o significado da memória. Antigamente confiávamos em profissões que agora nos parecem surreais, como o vedor, que buscava água segurando uma pequena vara bifurcada na mão, a curandeira, que tratava das pessoas e dos animais enfermos ou o funileiro, o tanoeiro, o latoeiro, o ferreiro ou o albardeiro, que faziam recipientes, ferramentas ou instrumentos para servir a vida rural ou doméstica. Estas profissões acompanharam-nos ao longo de séculos, sem grandes mudanças, sem aquiloa que agora chamamos “inovação” ou “processos de melhoria contínua”. Um ofício aprendia-se com o mestre e assim se transmitia a arte e o segredo de cada profissão.
Nos nossos dias, olhamos com nostalgia para esse passado que nos acompanhou durante tanto tempo, mas temos dificuldade em recordar as profissões que permaneceram conosco apenas algumas décadas. Ninguém se lembra da dactilógrafa, do empregado de videoclube ou da telefonista. São ocupações que a tecnologia e a automação tornaram obsoletas rapidamente e que não deixaram saudades. Muitas das nossas profissões de hoje serão rapidamente esquecidas e permanecerão essas outras, de que aqui se fala e que preencheram muito passado, muito tempo.
São ofícios que além da necessidade, tinham uma certa plasticidade, uma espécie de aura, como se de obras de arte se tratassem. A tal aura que, no dizer de W. Benjamin, permite a certas obras a sua projeção no espaço e no tempo.
Daqui a mais três décadas, alguém virá a este jornal falar dos ofícios de antigamente e serão os mesmos de que hoje falamos, porque de hoje, no meio de tanta biotecnologia e engenharia de dados, sobrarão apenas aqueles ofícios que, por alguma razão, nos acrescentam na nossa humanidade.