No Carnaval são centenas os nazarenos emigrantes que “dão à costa” na Nazaré e o REGIÃO DE CISTER foi tentar perceber por que razão percorrem milhares de quilómetros para gozarem o Entrudo.
Marta Delgado tem um lamento: “Aaaah môr, só vou três dias… infelizmente!” A nazarena trabalha na Suíça, mas voltou a casa esta semana para matar saudades do Carnaval. Nesta época do ano são centenas os nazarenos emigrantes que voltam até à vila. E reina a opinião de que “isto é uma doença” e, também, que o Carnaval é “um estado de alma”. Os emigrantes deram à costa e o REGIÃO DE CISTER foi tentar perceber por que razão percorrem milhares de quilómetros para gozarem o Carnaval…
Desde que se mudou para a Suíça, há cinco anos, Marta Delgado apenas falhou um Carnaval. E logo nesse primeiro ano. Mas nem por isso deixou de “balhar”. “Meti a Rádio Nazaré a tocar marchas e ensaiei-me e tudo. Tava o balhe armade”, recorda.
Desde 2014 que viaja “em dias de folga” até à Nazaré nesta época. Em três dias, faz também uma viagem no tempo, relembrando outros carnavais e marchas que lhe estão entranhados na memória. Um gosto pelo Carnaval herdado do pai. “É um mar de emoções e de muitas memórias. As melhores são da minha infância no Casino, onde o meu pai (Zé Rui) cantava. Sei que dormia nos bancos da frente do palco até o baile acabar”, conta a nazarena.
Ao segundo dia de folia contavam-se “três horas dormidas” e um imenso “sentimento de alegria e de tristeza”. ”Por saber que me vou embora e que vou ter que esperar mais um ano pelo carnaval… mas é como diz a marcha: nesta época sou a mais feliz do munde!” “São três dias que pagas ‘c’u corpe’ mas eu prefiro assim do que ficar doente de só ver o meu Carnaval de longe”, sublinha.
Um outro nazareno que passa a vida “à espera das marchas e de saber quem são os reis” é Flávio Rodrigues. Foi para Inglaterra em setembro de 2015. Uns anos antes, ainda a viver na Alemanha, vinha dar à costa nazarena por estes dias. Desde os 16 anos que não perde um balhe e assume essa “loucura” por ser “verdadeiramente apaixonado” pelo Carnaval da Nazaré.
Este ano está por cá durante dez dias para “viver esta paixão” com que nasceu e apreciar devidamente “os dias mais felizes do ano”. “Para mim o Carnaval não é só nestes dias. É também todo o tempo para trás, por isso é que me custa tanto estar longe da minha terra”, admite o nazareno, acrescentando que, quando vai de metro para o trabalho são as marchas quem o acompanha.
“As melhores memórias vêm do baile da Pederneira, por ser onde cresci e onde sinto que há espírito de família”, afirma o nazareno, defendendo que, como já dizia uma marcha, “se mandasse neste mundo não havia um segundo que não fosse Carnaval”.
Os dias de volta à Nazaré vêm bem contados para a maioria dos emigrantes. Mais dia, menos dia, é hora de voltar ao avião e regressar ao ponto de partida. Por isso é necessário aproveitar todos os segundos para celebrar o Entrudo. Tal como fez o jovem nazareno Pedro Piló, que vive em Inglaterra. Nesta terça-feira já não se deitava “há dois dias” e pediu para ser entrevistado “só para o ano”. “Viva ao Carnaval, viva à Nazaré” foi a única forma de o nazareno expressar o seu amor pelo Entrudo.
É caso para dizer que nem daqui a “mil carnavais” e nem a “mil milhas” este amor algum dia ficará diminuído.
Fotografia: Câmara Municipal da Nazaré