“Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia”. Nisto acreditava o Ega, esse admirável personagem dos Maias de Eça de Queiroz. E nisto tendo a acreditar também, ao assistir à valente sova que estamos todos a apanhar.
A medonha tareia a que se referia o inolvidável Ega era uma ameaça à pátria, capaz de unir os portugueses em torno de uma causa comum para reforçarem o País. Para se defenderem em bloco e esse bloco permanecer a nação valente a que nos orgulhamos de pertencer. Quero acreditar que vai ser assim e que, não tarda nada, estaremos perante dias de regeneração. Depois do espanto e do medo, já é hora de nos unirmos para relançar as nossas vidas. Unidos, sem unanimismos, encontrando terrenos comuns onde possamos cultivar em conjunto.
E por falar em cultivar, que tal se, de facto, começássemos a preferir o que é nosso? Comprar cerâmica cozida nos fornos das nossas fábricas, comer fruta dos nossos campos, escolher sapatos feitos em Portugal, tecidos dos nossos teares, cestas do nosso vime, vinho das nossas vinhas, bebido em copos do nosso vidro?
É uma receita antiga, capaz de, em pouco tempo, dar um forte impulso à nossa economia. Embora no mundo de hoje seja impossível sobreviver exclusivamente com o que se produz dentro de portas, a verdade é que podemos escolher em muitos casos e, infelizmente – digo eu, enfiando a carapuça – escolhemos em função da comodidade, do preço, da estética e não tanto da etiqueta que revela a origem.
Eis a minha promessa: a partir de agora já não vou só optar pela maçã de Alcobaça, pelo doce conventual, pelo nosso vinho e licor. A partir de agora, sempre que puder, vou olhar para uma outra etiqueta, além da do preço. Com determinação, posso bem dormir em lençóis feitos cá, optar por férias cá dentro, valorizar as marcas lusas. Já que estamos unidos no combate, acho que podemos, juntos, recuperar desta tareia, não?