Partilhar afectos, celebrar o nascimento de Jesus ou o renascimento da esperança, trocar desejos e abraços, cear bacalhau ou peru ou polvo, comer rabanadas e azevias. Enfeitar o presépio, ligar as luzes da árvore, ouvir músicas pirosas que só somos capazes de suportar nesta época. Decorar a mesa e a casa como se estivéssemos a brincar às bonecas. Jogar monopólio, colocar pilhas no comando de um carrinho, recordar outras noites encantadas, voltar a ser pequenino…
Céus! O Natal é tão intenso que comove mesmo aqueles que, por razões profissionais ou familiares ou de outra natureza, passam a consoada a trabalhar ou a ajudar ou de outra maneira, como se fosse uma noite qualquer.
Mas não é. A noite de 24 de Dezembro, a que, muito a propósito, os nossos vizinhos espanhóis chamam a Nochebuena, é mesmo uma noite especial. É a noite dos poemas e dos sinos, é a noite pequenina, das mais pequenas do ano e da qual emergem estrelas e planetas alinhados, é a noite de todos os prodígios. Não se me ocorre outra ocasião em que tanta gente se deseje mutuamente, tanto bem, ao mesmo tempo.
Bem, digo eu. Bem e não dinheiro ou prosperidade ou qualquer outra coisa. Na noite de natal agradecemos a vida e valorizamos a boa vontade, a nossa e a dos outros. Agradecemos e bem-dizemos a graça de todas as vidas. Na noite de Natal, acreditamos, genuinamente, que queremos e podemos ser melhores….
Pensando bem, quando neste natal abdicarmos do abraço, quando preferirmos a distância ao reencontro e taparmos o rosto para nos protegermos, estaremos apenas a fazer jus a esse espírito de Natal. Pensando bem, neste natal não precisamos reinventar nada, só precisamos querer-nos bem uns aos outros para nos protegermos, para nos cuidarmos, para nos amarmos.