“Se és capaz de esperar sem cansar a esperança, e de não caluniar os que te caluniam, e de não pagar ódio com ódio – tudo isto sem te considerares um modelo dos bons;” (R. Kipling)
Num dos mais belos poemas que conheço, intitulado SE, Rudyard Kipling enumera os atributos que farão de qualquer homem, um Homem. Não há aqui, nesta linguagem, nenhuma questão de género. Poderia dizer que o poema descreve as virtudes que permitem elevar qualquer pessoa, a Pessoa, por oposição ao mero animal, distinguindo assim o Humano do bárbaro.
Importa sublinhar a letra grande, essa maiúscula que confere à Humanidade, não sei o quê de metafísico, de solidário, de maior do que a vida de cada ser que a compõe. Ora, num dos versos de SE, o poeta lembra que não se deve pagar ódio com ódio, que o mesmo é dizer, que devemos evitar responder ao ressentimento, com mais ressentimento.
Nestas eleições presidenciais, houve espaço para votos que não tinham como objetivo escolher o melhor para o país, nem para a comunidade, nem sequer para os particulares ou interesseiros objetivos de cada um. A imprensa chamou-lhes votos de protesto. Não estou de acordo. Os votos de protesto são nulos, são em branco, são num candidato sem hipóteses, mas com capacidade de ser porta-voz de descontentamentos. Votar em quem promete pagar ódio com ódio, é, na minha opinião, não um voto de protesto, mas um voto de ressentimento. Imagino que quem assim o decidiu fazer e o fez em consciência, esteja a sofrer e, não sendo capaz de expressar a angústia de outra maneira, lança mão da raiva e vota com a raiva de quem deseja, nesse momento, que todos, além de si, sofram também e se angustiem.
Sem querer dar-se ares de “modelo dos bons”, o Professor Marcelo parece ter enxergado essa realidade e, a bem da Nação e de todos nós, foi “capaz de manter a calma, mesmo quando todos, à sua volta, a foram perdendo, e mesmo quando lhe deitaram as culpas”. Com gratidão de aluna e de cidadã, desejo-lhe mais um grande mandato a agradeço ao Homem.