Creio que nunca, como este ano, senti tanta vontade de festejar nem nunca tinha percebido nos outros esta imensa vontade de conviver, dançar, agradecer, sorrir e partilhar a mesa, mesmo se a mesa estiver ocupada por desconhecidos.
Susana Santos
No solstício de Verão, comemoramos o regresso do bom tempo, o amadurecimento, a luz dos dias grandes. A tradição cristã, que enformou uma boa parte da nossa cultura ocidental, inscreveu, à volta desta data, a celebração de muitos dos seus Santos. À glória de Santo António, São João, São Pedro, São Bernardo e tantos outros consagrados da Igreja, arranjamos pretexto para iluminarmos as ruas, armarmos barracas de farturas e atearmos as brasas onde irão pingar a sardinha, o frango e as febras.
Creio que nunca, como este ano, senti tanta vontade de festejar nem nunca tinha percebido nos outros esta imensa vontade de conviver, dançar, agradecer, sorrir e partilhar a mesa, mesmo se a mesa estiver ocupada por desconhecidos.
Talvez a razão esteja relacionada com os últimos dois anos, durante os quais uma parte substancial da nossa humanidade nos foi amputada à força. Disseram-nos para nos isolarmos quando, na verdade, a nossa natureza é gregária, social e, espero eu, livre.
Ainda há dias, em São Martinho do Porto, foi comovente ver passar no meio do arraial montado junto à praia, a procissão de Santo António, acompanhada pela excepcional banda da Maiorga. Sem que fosse preciso nenhum sinal, da algazarra nasceu um silêncio respeitoso, para que se ouvisse apenas o compasso da banda que seguia o Santo. E nos olhares dos que permaneceram no arraial e que rapidamente voltaram à farra, creio ter vislumbrado um qualquer sinal de gratidão por este regresso da festa, das pessoas, da vida.
Esta semana é a vez de Porto de Mós celebrar o São Pedro, que se quer de arromba e daqui a umas semanas Alcobaça promete o melhor São Bernardo de sempre.
Vivam os santos e as oportunidades que sabemos criar para, em conjunto, festejar a passagem do tempo, que é onde se venera e percebe a vida!