Quarta-feira, Novembro 12, 2025
Quarta-feira, Novembro 12, 2025

Surdez seletiva

Data:

Partilhar artigo:

Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio

Susana Santos

Em que momento deixámos de conseguir dialogar? Nunca tivemos tantas ferramentas de comunicação, como as que temos nesta era. A grande maioria tem um corpo físico que só se completa com um pequeno retângulo que lhe permite comunicar com o mundo todo, instantaneamente, permanentemente.

Apesar disto, algo de paradoxal se está a passar e que julgo ser a nossa crescente incapacidade de receber mensagens. Se, por um lado, a nossa possibilidade de as emitir é ilimitada, parece ter surgido, ao mesmo tempo, uma progressiva aversão ao diálogo, à discussão, ao contraditório, como se cultivássemos uma surdez seletiva, que só consente ouvir quem está na nossa frequência. Não sei em que momento passámos a sintonizar os nossos recetores – sejam os dos sentidos ou os aparelhos eletrónicos – apenas nas opiniões coincidentes. Os algoritmos selecionam o que julgam que queremos ou gostamos de ver e ouvir, e o nosso cérebro parece ajustar-se à preposição desses algoritmos. E assim passamos a viver apenas com e para quem partilha gostos e opiniões connosco.

Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio. A interpelação, o humor ou a surpresa surgem como ofensa… vamo-nos tornando mais radicais, menos capazes de ver e entender o outro, sobretudo se o outro for diferente de nós. E neste processo, perdemos um universo de possibilidades de crítica, de estender o pensamento e de alargar o conhecimento. Por outras palavras, tornamo-nos mais maniqueístas, mais agressivos e polarizados. Quem sofre é um dos valores que melhor garante a paz social, que é a tolerância e o gesto que a faz crescer, que é o sorriso.

Região de Cister - Assine Já!

P.S. Escrevo este artigo na sequência da polémica gerada em torno da intervenção no bico da memória, na Nazaré. Confesso-vos que não tenho uma opinião sobre o assunto, sobretudo porque não consegui, de nenhum dos lados envolvidos, recolher argumentos ponderados que me permitam adivinhar uma solução de compromisso, que preserve a memória histórica e afetiva do lugar e valorize o património, sem descuidar a segurança. Aliás, temo bem, que com este argumento da segurança, se esteja a impor todo o tipo de atropelos à liberdade. 

AD Footer
Artigo anterior
Próximo artigo

Artigos Relacionados

Jorge Vala eleito presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria

O presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, foi eleito, na manhã de ontem, o novo...

Irmãos mirenses transformam papel de silicone em recurso sustentável

O papel de silicone proveniente dos autocolantes utilizados para a rotulagem dos vinhos deixou de ser um problema...

Parque Infantil no Miradouro da Azelha vence OP em São Bento

O projeto Parque Infantil do Miradouro da Azelha foi o grande vencedor da edição de 2025 do Orçamento...

Homem Estátua dos Pisões distinguido com prémio “Artista do Ano”

O artista António Santos, conhecido como StatikMan e natural dos Pisões, em Pataias, foi distinguido com o Prémio...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!