Domingo, Junho 15, 2025
Domingo, Junho 15, 2025

Surdez seletiva

Data:

Partilhar artigo:

Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio

Susana Santos

Em que momento deixámos de conseguir dialogar? Nunca tivemos tantas ferramentas de comunicação, como as que temos nesta era. A grande maioria tem um corpo físico que só se completa com um pequeno retângulo que lhe permite comunicar com o mundo todo, instantaneamente, permanentemente.

Apesar disto, algo de paradoxal se está a passar e que julgo ser a nossa crescente incapacidade de receber mensagens. Se, por um lado, a nossa possibilidade de as emitir é ilimitada, parece ter surgido, ao mesmo tempo, uma progressiva aversão ao diálogo, à discussão, ao contraditório, como se cultivássemos uma surdez seletiva, que só consente ouvir quem está na nossa frequência. Não sei em que momento passámos a sintonizar os nossos recetores – sejam os dos sentidos ou os aparelhos eletrónicos – apenas nas opiniões coincidentes. Os algoritmos selecionam o que julgam que queremos ou gostamos de ver e ouvir, e o nosso cérebro parece ajustar-se à preposição desses algoritmos. E assim passamos a viver apenas com e para quem partilha gostos e opiniões connosco.

Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio. A interpelação, o humor ou a surpresa surgem como ofensa… vamo-nos tornando mais radicais, menos capazes de ver e entender o outro, sobretudo se o outro for diferente de nós. E neste processo, perdemos um universo de possibilidades de crítica, de estender o pensamento e de alargar o conhecimento. Por outras palavras, tornamo-nos mais maniqueístas, mais agressivos e polarizados. Quem sofre é um dos valores que melhor garante a paz social, que é a tolerância e o gesto que a faz crescer, que é o sorriso.

Região de Cister - Assine Já!

P.S. Escrevo este artigo na sequência da polémica gerada em torno da intervenção no bico da memória, na Nazaré. Confesso-vos que não tenho uma opinião sobre o assunto, sobretudo porque não consegui, de nenhum dos lados envolvidos, recolher argumentos ponderados que me permitam adivinhar uma solução de compromisso, que preserve a memória histórica e afetiva do lugar e valorize o património, sem descuidar a segurança. Aliás, temo bem, que com este argumento da segurança, se esteja a impor todo o tipo de atropelos à liberdade. 

AD Footer
Artigo anterior
Próximo artigo

Artigos Relacionados

Maria Amélia Cordeiro eterniza em livro memórias felizes da infância

Os rascunhos das memórias felizes da infância que Maria Amélia Cordeiro foi escrevendo em prosa e poesia ao...

Juno

Junho é o sexto mês do calendário gregoriano. Recebeu o seu nome em honra da deusa romana JUNO,...

Bombeiros da Benedita reforçam missão com novo posto de emergência

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Benedita (AHBVB) deu recentemente um passo marcante no reforço da capacidade...

Externato da Benedita conquista 2.º prémio em passatempo online

O Externato Cooperativo da Benedita (ECB) conquistou o 2.º prémio no passatempo online nacional “SOS Polinizadores – Constrói...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!