Ápice é a palavra que melhor descreve o passar dos dias nos últimos tempos
Teresa Radamanto
Março é um mês de renovação. A história repete-se todos os anos. O equinócio primaveril inspira sentimentos de esperança e cada um de nós assiste a um miraculoso renascimento de desejos e sonhos. Renovamos votos antigos e voltamos à carga com uma fé inabalável. Contudo, é cada vez mais difícil experienciar este milagre! Não apenas pelo estado em que o mundo e o país estão, mas principalmente porque o tempo já não é o mesmo.
Tudo passa a correr. Ápice é a palavra que melhor descreve o passar dos dias nos últimos tempos. Por isso, não podemos permitir que esta consumição nos retire a capacidade de observar o que de verdade importa. Assim, importa relembrar a luta secular da mulher pela igualdade social, política e económica, frisando que apesar de o fazermos em mais de 100 países, ainda existem outros em que esta data é amplamente ignorada; portanto, importa não diluir a profundidade deste dia em festividades de caráter comercial.
Voltando ao tópico renascimento, gostaria de fazer referência aos regressos e às saudosas partidas que marcaram este mês. No plano nacional observámos grandes regressos, em particular na música; e também saudosas partidas, das quais destaco Rui Nabeiro, “o homem grande que aumentou o mundo”, tal como Pedro Chagas referiu, ao despedir-se do comendador. No plano internacional destaco os atores Brandon Fraser e Ke Huy Quan; Michellle Yeoh e Jamie Lee Curtis. No plano masculino observámos comoventes renascimentos; assistimos a regressos impressionantes após décadas de sombrios esquecimentos. No feminino vimos o talento e a beleza serem reconhecidos em qualquer idade, sem preconceitos. Provaram-nos que é possível acreditar em oportunidades renovadas e sonhos concretizados. Este sentimento de fé renovada num momento cronológico aparentemente tão decrépito, trás algo que para mim, importa destacar.
Dia 2 de Abril assinala-se o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. Importa cultivar a fraternidade e humanidade em cada um de nós, perante esta ou qualquer outra causa. Importa fomentar a equidade social; aceitar a diversidade e renovar mentalidades. Tal como Margaret Mead, antropóloga, explicou recentemente numa conferência universitária, a propósito da evolução humana, importa entender que “ajudar alguém em dificuldade é o ponto onde começa a civilização de nossa espécie”. Páscoa Feliz.