Nunca consegui, ou conseguirei, explicar às pessoas o que os Moonspell fazem ao certo. Nem à minha mãe, nem aos meus amigos, nem aos outros músicos. Sim, somos uma banda de Metal que percorre o mundo, mas a situação é, por vezes, tão surreal que não se encontra contexto que a explique.
É bem mais possível que eu chegue ao Atelier do Doce no Casal do Amaro, para ir buscar o bolo de aniversário do Fausto, e encontre duas senhoras que me dizem “Ah! Que coincidência, estávamos mesmo a falar da Sónia e agora está aqui o marido”; do que tentar explicar que no dia 30 de Março, eu desembarcava em Arequipa, no Peru, cidade “branca” dos sete vulcões para tocar rock and roll no dia seguinte numa bodega de salsa, enquanto na praça da Igreja, cheia de gente, havia uma procissão da Semana Santa.
Ou que enquanto eu sobrevoava os Andes, em Alcobaça se discutia o novo namorado da Bárbara Guimarães, ou coisa que o valha.
Este “contraste” podia dar com qualquer um em maluco, mas, pelo contrário, eu cá acho que é este ritmo entre muito mundo em poucos dias, com o “não se passa nada em Alcobaça” que faz com que a minha vida seja bonita e tenha sentido.
Claro está que, por vezes, eu gostava de mais mundo em Alcobaça e menos Alcobaça no mundo, mas, ser músico viajante, é ter noção de que esse mundo não gira à nossa volta. Somos nós que giramos às voltas dentro dele.
Sei que um dia terei de escolher, mas, também sei que a minha escolha já está feita pelas coisas que faço todos os dias quando não estou “na estrada”: levar o Fausto, buscar o Fausto, ir aos bolos, ir às compras, almoçar com amigos, sentar-me no parque.
Tudo isto me ajuda a saber que, acima de tudo, Alcobaça é um lugar para onde regressar.