Muito gosto eu de falar de comida! Bom, de falar e de comer. Gosto sobretudo da variedade dos aromas e das múltiplas formas de apresentação, confeção e de conservação. Sempre que me sento à mesa dou graças pela refeição e celebro mais uma festa de sabores. Porém, hoje, quero falar-vos de um outro alimento, o do cérebro. Ao do espírito não me atreverei, mas o cérebro, senhores, o cérebro precisa igualmente de ser alimentado e, neste caso, a amplitude do cardápio é ainda mais importante. Precisamos de garantir a saúde do cérebro e, por essa via, a do coração. Acho que andam os dois de mãos dadas e que não é possível amar, sentir empatia pelo outro, pelos outros, se não se fizer um esforço sério de reflexão e de estudo, capaz de nutrir o cérebro com informações fidedignas, factos verificáveis e perspetivas diferentes, isto é, com todos os sabores e texturas e cores do nosso pensamento, enriquecido com as receitas saudáveis que sejamos capazes de recolher conversando, lendo e ouvindo.
Esta semana, no jornal Expresso, que é um dos meus lanches semanais, o historiador Yuval Noah Harari adverte para a necessidade de aferirmos a qualidade dos produtos com que alimentamos a mente, diz ele que, tal como no caso dos alimentos processados, também as notícias falsas e as teorias da conspiração, que consumimos nas redes sociais, deveriam ter um aviso, a dizer “este vídeo contém 40% de raiva, 20% de medo, 20% de ganância” para que se soubesse com que andamos a alimentar-nos.
Tal como a comida rápida, cheia de ingredientes nocivos, pode colocar a nossa saúde em risco, o consumo de informação instantânea pode pôr em perigo, não só a nossa saúde, mas a vida em sociedade, tal como a conhecemos.