Quem faz o Natal para todos nós? São os amigos. Era assim o refrão de um dos temas que mais rodava na minha casa, na véspera de Natal. Com letra de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa, era interpretado pelos Operários do Natal e falava da importância do trabalho. A esse tema juntava-se, na contagem decrescente para abrir as prendas (que, na minha casa, se fazia sempre lá pelas 22:00, sem paciência para esperar pela meia-noite e pelo Pai Natal), o Jingle Bells, que a minha avó dizia que era o Signorell.
Os meus pais trabalhavam e endividavam-se para não só ter o bacalhau a fumegar na mesa, como as prendas que a TV anunciava: a garagem com elevador da GALP, a Minha Agenda, a coletânea do Natal O disco do Ano, ou coisa que o valha.
Sempre soube que o Natal tinha uma relação estrita com o trabalho. Era a conquista social da regulação do subsídio de Natal, consagrada em Diário de República em 1980, que permitia a muitas famílias ter mais e melhor comida sobre a mesa e compensar os filhos e os avós que tomavam conta deles, com uma prenda no sapatinho.
Todos os anos vejo a reportagem sobre pessoas que trabalham na véspera de Natal. Também já me aconteceu e é uma sensação estranha, porque o Natal devia ser uma meta e não uma etapa na dureza da vida.
Em todo o caso, apesar de não observar a tradição religiosa do nascimento de Cristo, gosto do Natal. Tenho sorte de ter um trabalho que me permite gozar a família, a paz que vem com a época. Nem a evidente e denunciada hipocrisia da festa me deixa de fruir esta quadra, apesar das desigualdades e da maior presença destas numa noite que deveria trazer magia a todos.
É famosa a trégua de Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial. Não, não foi um milagre, foram homens a ser homens, longe das ordens dos senhores da guerra, provando que, afinal, Natal é mesmo quando um homem quiser.
Eu quero e espero que vocês também.