Quarta-feira, Dezembro 11, 2024
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Uma vida grande de pequenas coisas

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Ao contrário do que parece ser a tendência atual – fazer da ostentação de coisas grandes, caras e sofisticadas argumento para fundamentar uma vida boa – eu me comprazo com pequenas bênçãos. Na verdade, ter uma vida sem doenças graves, um sistema social que, reconhecendo o contributo passado, paga uma senescência feliz é uma bênção. Ter um sol que aparece todos os dias, árvores ou arbustos como magnólias, jasmins e rosas, que florescem todos os anos, a salsa, os coentros, a hortelã e o manjericão que, em os plantando e deles tratando, dão pernadas de prazer é uma bênção maior. Ter uma família que se ama e que não foi desfeita por razões que não dominamos é um privilégio maior. Na verdade, o contexto atual revela-nos um universo que, em terras de palestinas, ucrânias, afeganistões, rússias e outras mais latitudes e longitudes, é um manifesto da insanidade de uma espécie que se desumaniza e perde o pé.

Hoje, na Antena2, ouvi, com saudade gostosa, um poema de Alberto Caeiro. Foi ele que, verdadeiramente, me encomendou este texto: “Saúdo todos os que me lerem / Tirando-lhes o chapéu largo / Quando me veem à minha porta / Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. / Saúdo-os e desejo-lhes sol, / E chuva, quando a chuva é precisa, / E que as suas casas tenham / Ao pé duma janela aberta / Uma cadeira predileta / Onde se sentem, lendo os meus versos (…)”. Eu também vou escrevendo coisas, sem as querer publicar, vou cuidando de rosas e jasmins a haver… porque o mundo está carente de beleza e saturado de pulsões negativas. Não defendo o regresso a um Éden, que nunca houve. Não sou contra um certo capitalismo democrático, que nos empoderou em bem-estar e benesses a que nunca acederíamos noutro sistema. É, porém, necessário, ser comedido, desejar evoluções tranquilas, de modo que todos tenham direito a uma vida grande com pequenas coisas.

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