Antigamente no Largo do Pelourinho, em pleno coração da freguesia, nos dias de hoje uns metros mais abaixo, o mercado semanal de Turquel continua a fazer a delícia de todos quantos por ali passam. Sejam eles da freguesia ou de outros pontos do concelho. Porque no espaço que ali funciona há cerca de 40 anos há uma vasta oferta de produtos, quase todos eles produzidos pelos homens e mulheres que ali têm as suas bancas, e que abastecem os fregueses de tudo o que de melhor se produz na região.
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É o caso de uma família natural da freguesia do Bárrio. José Carvalho, do alto dos seus 73 anos, recorda uma vida dedica à atividade: “Não posso precisar, mas diria que faço o mercado de Turquel há cerca de 55 anos. Desde que era miúdo que me lembro de vir vender para o mercado. Agora é aqui, mas eu ainda sou do tempo do espaço ser junto ao Largo do Pelourinho, lá em cima.”
A visão é partilhada pela esposa, três anos mais nova. Maria Cerqueira não esconde que o mercado de Turquel sempre foi “um espaço importante” e onde marcam presença “com muito gosto”, mas também aponta os mercados de Montes e Juncal (este já no concelho de Porto de Mós) como sendo “bastante bons”.
O cultivo dos produtos hortícolas “é todo feito ao pé de casa”, uma vez que, salienta Maria Cerqueira, “temos bem espaço para isso”, e o trabalho é feito “durante a semana, na terra”.
E como a tradição ainda é o que era, a atividade vai passando de geração em geração. “Vender no mercado já vem dos tempos dos meus avós paternos, ainda no Largo do Pelourinho, como disse o meu pai, e eu faço questão de dar continuidade ao trabalho da família”, confessa Ricardo Soares, de 41 anos, pronto para servir mais um cliente que chega à banca.
E foi também junto dos clientes que o REGIÃO DE CISTER pôde atestar a qualidade dos produtos que estão à venda no mercado de Turquel. A manhã de domingo estava bastante chuvosa, as condições atmosféricas não eram, de todo, convidativas a sair de casa, e por essa razão, nesse dia, o espaço estivesse menos preenchido do que é habitual. “Sim, costumo vir com frequência e hoje está pouca gente. Mas, sabe, o culpado é o tempo, que não ajuda nada. Eu ainda arrisquei porque gosto mesmo de aqui vir e precisava de comprar alguns legumes e também fruta”, confessa Maria dos Anjos. “Já venho aqui há muitos anos e não há dúvida de que a qualidade é bastante superior àquela que encontramos nos supermercados”, atira a septuagenária.
Por entre os corredores onde estão expostos os produtos em banca, cruzamo-nos com um casal que contempla hortícolas e também… tremoços e pevides. “É a primeira vez que aqui vimos. Parámos para comprar pevides, mas vamos acabar por levar também tremoços, amendoins e mel”, conta, sorridente, Odete Machado, natural do Casal Parto, ladeada do marido, José Sancheira, de Caldas da Rainha: “Se gostarmos, claro que voltaremos. Seja aqui ou noutros locais, as tradições dos mercados são muito importantes e espero que não venham a perder-se nos próximos anos.”
Também natural de Caldas da Rainha é Lurdes Mendinas, de 54 anos, que tem uma banca repleta de fruta e hortícolas. “É tudo produção caseira. Há mais de 20 anos que vendo aqui no mercado de Turquel. Venho aos sábados e aos domingos”, explica, não sem antes assumir que “é daqui que vem o sustento”, especialmente pelos muitos clientes “que são os mesmos desde o início”. Além disso, refere a produtora, “há também cada vez mais gente jovem a vir à praça e isso é bastante animador”.
Mas se a maioria dos produtos são de fabrico próprio, também há quem faça revenda no mercado. “Vendo todo o tipo de fruta e hortícolas, mas compro numa grande superfície em Lisboa para vir vender aqui”, nota Raquel Maria, de 71 anos, residente na Feitosa. “É a minha opção porque consigo comprar a bons preços e ter lucro. Isto além de serem produtos de qualidade, claro está”, acrescenta.
Ao seu lado está a filha, Madalena Maria, que ajuda a mãe no negócio. “E às vezes também vem a minha filha, que é enfermeira, mas que gosta muito de estar aqui no mercado”, conta.
Há de tudo e… para todos
Os produtos hortícolas estão, naturalmente, em grande destaque no mercado de Turquel. Rara é a banca que não tem legumes prontos para serem vendidos e, depois, consumidos pelos clientes, mas não se pense que ir à praça da vila significa apenas adquirir hortícolas. Porque, em bom rigor, ali há de tudo e (literalmente) para todos.
As caixas de fruta devidamente organizas e expostas para que os clientes possam servir-se, as embalagens de plástico onde estão guardados os tremoços, as pevides, os amendoins, os frutos secos… Enfim. É todo um conjunto de oferta de produtos que quase que ‘obrigam’ os frequentadores do mercado a levarem sempre mais qualquer coisa do que estava inicialmente previsto, alguns deles mantendo hábitos de décadas.
Quem entra pela porta de um dos cantos do mercado – que tem também, a entrada frontal – depara-se com uma banca de peixe, outrora muito bem composto por vários vendedores.
No dia da nossa reportagem, infelizmente, a peixeira não estava presente. “De certeza que é por ser altura do Carnaval. Deve ter sido por isso que hoje não veio”, atira outra comerciante: “Ela é da Nazaré e lá o Carnaval é rei.”