O Lúmen é um espetáculo magnifico, com um contexto próprio a uma cidade que reclama o amor imortal de Pedro e Inês, apesar de sabermos que nada disto se passou aqui e que a Alcobaça foi somente consagrado o descanso eterno dos amantes. É uma performance que envolve a comunidade local e só podemos dar graças à SA Marionetas por termos este talento disponível no nosso concelho. Mas, não teria sido mais consentâneo encomendar-lhes um espetáculo de raiz sobre Abril, como fez a autarquia de Sines com a sua companhia local, o Teatro do Mar, que apresentou Levante em conformidade com o meio século da Revolução dos Cravos?
Também faltou a música de Abril, apesar da sempre grata e magnifica prestação da Sónia (Tavares), aliás a única pessoa que ouvi gritar “Viva o 25 de Abril” numa praça cheia de gente. Houve até quem gritasse “Salazar”, porque talvez se tenha sentido autorizado pela falta de impacto da programação camarária de Abril (um copy paste de outros anos, com sessões solenes, a deposição da coroa de flores a Humberto Delgado, os almoços, os cantares escolares…)
Até a escolha do dia 25 à noite (e não 24) pareceu encomendada para despachar as pessoas que “amanhã é dia de trabalho”, ao contrário de Torres Vedras (onde estive a cantar Zeca e Sérgio Godinho), ou Leiria, ou Caldas, ou Marinha Grande onde se viveu muito mais que apenas um filme a 24 e dois minutos de fogo de artificio a 25. Havia um ar de profunda insatisfação no ar na praça 25 de Abril. Ninguém se sentiu a comemorar o meio-século de Abril sem a música certa, sem cravos, sem a alegria que tanta gente ainda sente como se viu na marcha de Lisboa, recordista em números.
Alcobaça esteve mal na homenagem à liberdade e é graças a essa mesma liberdade que aponto, sem medo, o dedo a uma celebração murcha, sem sal, a picar o ponto e a cumprir um calendário que merece outra dignidade e atenção das entidades responsáveis para não deixar morrer o dia mais importante da nossa história moderna.