Aos 26 anos, o nadador olímpico Francisco Santos anunciou o final de uma carreira de década e meia, colocando um ponto final num percurso notável e que o levou a representar o País nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, o jovem beneditense explica a decisão e faz um balanço de um período que o coloca na galeria dos notáveis do desporto regional.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Termina a carreira aos 26 anos. Porquê?
Francisco Santos (FS) > Senti que já era o final do ciclo olímpico e pensei que estava no momento de começar novas aventuras no mundo do trabalho. Considerava que LosAngeles’2028 era muito distante e não me via a fazer natação mais quatro anos com o nível que estava a praticar. No início do ano sentia que era mesmo o que queria, mas depois apercebi-me de que já não estava a conseguir conciliar isso com a vida profissional.
RC > Era algo que vinha já a equacionar?
FS > Já pensava nisso há muito tempo e até antes de fazer os mínimos para os Jogos Olímpicos. Já aí pensava e falava com os meus colegas. O facto de ter conseguido apurar-me para os Jogos Olímpicos acabou apenas por adiar a minha saída. Ir aos Jogos Olímpicos era o objetivo principal na minha carreira, mas nem estava à espera que fosse logo em Tóquio. Julguei que, nesse ano, iria ficar muito próximo, mas que só o conseguiria já em Paris’2024. A minha ideia era essa, mas conseguindo logo em Tóquio, cumpri de imediato o meu maior sonho.
RC > Como foi viver o espírito olímpico em Tóquio? Ainda que em plena pandemia…
FS > Foi uma experiência inexplicável. Desde o momento em que fiz os mínimos [faltava um mês]. Esse mês e meio foi indescritível. Talvez o momento mais marcante da minha vida até à data. E em Tóquio marcou-me muito a cidade em si. As viagens que fizemos do aeroporto à vila olímpica. A cidade era tão diferente, com canais gigantes, imensas pontes… fiquei deslumbrado com a cidade. Participar nos Jogos foi quase como mais uma prova internacional, em que tens seguranças à porta, as tuas malas são revistas e a vila olímpica é completamente diferente. Estão todos concentrados lá, mas no fundo senti que estava numa prova com uma grande dimensão.
RC > Estabelece recorde nacional nos 100 costas, ficando em 2.º na série, e termina em 6.º na série na prova de 200 costas. As prestações enquadraram-se nos objetivos traçados?
FS > Os 100 costas surpreenderam-me, mas depois os 200 costas desapontaram-me um bocadinho porque estava à espera de conseguir obter uma marca mais próxima do meu recorde pessoal, apesar de ter zero expectativas. Como tinha conseguido os mínimos tão perto dos Jogos Olímpicos, pensei que o pico de forma já tinha sido e que tudo o que conseguisse fazer daí em diante era já um ganho. Mesmo que não fosse o melhor resultado, já seria fantástico ter estado numa edição dos Jogos Olímpicos e, essa sim, foi a maior vitória.
RC > Ainda hoje sente o peso de ser um atleta olímpico?
FS > Honestamente não sinto muito. Sou uma pessoa normal, com uma vida completamente normal, não sinto isso. Se calhar, naquele mês em que consegui o apuramento e estive em Tóquio, senti mais porque se falava muito dos Jogos e dos atletas. Mas hoje em dia, não sinto qualquer diferença no trato das pessoas.
RC > O que faltou para que não fosse esta a decisão final? Mais apoios ao desporto?
FS > Sinto isso, mas também penso no facto de o desporto ser uma carreira que tem um prazo limite. Chega a um ponto em que não consegues competir e não conseguiste dinheiro suficiente para continuar a viver dos rendimentos. Neste momento, não seria por aí que a minha decisão iria ser diferente. Com a natação, gasto muito tempo em treinos e não consigo desenvolver-me na carreira profissional.
RC > Que momentos destacaria destes 15 anos de carreira?
FS > Além dos Jogos Olímpicos, evidentemente, o primeiro estágio de equipa que faço pelo Benedita Sport Club de Natação. Fomos para fora, dormir fora da casa dos pais e havia todo um espírito de equipa incrível. Foi na Vidigueira e ainda hoje me lembro desse momento, das praxes que fazíamos… Recordo também os primeiros campeonatos nacionais de clubes ganhos pelo Sporting, em que acabei por fazer parte da equipa principal e consegui corresponder. Conquistei provas em que não era candidato.
RC > Manter-se-á ligado à natação?
FS > Adoro nadar e vou continuar a fazê-lo, mas neste momento apenas durante o horário livre das Piscinas Municipais da Benedita. Nadar continua a ser um refúgio. Por enquanto, o futuro será apenas por aí e para desfrutar de momentos que abdiquei antes em prol da natação.
RC > Deve mais à natação ou a natação é que lhe deve mais a si?
FS > Acredito que não devo nada à natação e que ela não me deve nada a mim. A natação deu-me amigos, família, conquistas e um “mindset” e uma disciplina brutais. Deu-me muita coisa, mas eu também dei alguma coisa à natação. A verdade é que não consigo imaginar a minha vida sem a natação.