A abundância de junco que, em tempos, existia pela humidade de alguns terrenos estará na origem da toponímia do Juncal e terá motivado os populares a trabalharem esta matéria-prima oferecida pela natureza das mais diversas formas para inúmeras finalidades. As famosas cestas de junco perpetuam, ainda hoje, uma tradição secular, ligada à freguesia, que é mantida viva pela marca familiar Alice Handmade, portadora dos segredos de quem nasceu com a arte de trabalhar o junco até ao mais ínfimo detalhe.
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Até há bem pouco tempo a marca do Juncal fazia todo o processo, porém, nos últimos anos deixou de ser viável realizar a “apanha” do junco, uma etapa muito trabalhosa e que obrigava a uma deslocação ao Alentejo ou ao Ribatejo, zonas em que a abundância daquela matéria prima era maior. “Depois de colhido verde, trazíamo-lo e colocávamo-lo a secar em leque. Passado uma semana, virávamo-lo para secar do outro lado e só depois é que o armazenávamos, cortávamos a espiga, lavávamos o junco. Depois procedíamos à sua conservação, colocando-o dentro de um pote com uma lata de enxofre a arder para que ele aclarasse, ficasse mais mole e não ganhasse bicho”, explica Marco Silva, que colabora com os pais já reformados no negócio que reergueram em 2010, depois de ter parado completamente nos anos 90 do século passado.
Hoje, apesar de já não realizarem o processo completo, em que após o momento da recolha eram necessárias cerca de três semanas para o junco estar apto para fazer uma cesta, a família ainda é responsável pela maioria das etapas, algumas que exigem metodologias cuidadosas, como é o caso da pigmentação do junco. “É tingido com tintas anilinas, dentro de água a ferver, tendo de estar ‘de molho’ algum tempo”, elucida o juncalense. Outras que se “socorrem” dos saberes das gerações mais antigas. “As pessoas que sabem realmente tecer já têm uma certa idade. Há pouca gente nova a querer aprender a tecer”, conta Marco Silva sobre uma das etapas fulcrais da manufatura das cestas. Este aspeto constitui uma ameaça a esta tradição secular da freguesia, que, mais cedo ou mais tarde, poderá mesmo perder-se. Antigamente, “era casa sim, casa também” a viver do fabrico de cestas de junco, mas a verdade é que os tempos mudaram muito…
Agora, o ofício alimenta-se principalmente devido aos turistas. “Eles não são nossos clientes diretos, vendemos essencialmente para armazéns grandes e lojas turísticas, mas sem dúvida que a cesta é um produto turístico e com maior procura no verão”, esclarece Marco Silva. No que toca às cestas, há para todos os gostos, feitios, tamanhos e… carteiras. “O preço de revenda varia entre os 14 e 35 euros, mas o cliente tem de comprar uma determinada quantidade. O produto final cifra-se entre os 20 e os 50 euros, dependendo do tamanho e dos acessórios que o comprador queira pôr”.
Desde que se juntou aos pais no negócio, Marco Silva tem procurado dinamizar a marca “Alice Handmade” nas redes sociais, nas quais conta com 12 mil seguidores no Instagram e mais de 5 mil no Facebook. É nestas plataformas que está exposto o trabalho, alicerçado na criatividade e no saber dos progenitores do juncalense, Maria Celeste e António Silva, e de alguns colaboradores como é o caso de Olinda, que ainda preservam o legado e vivem da arte de trabalhar a matéria-prima que dá nome à vila e à freguesia.
No ativo, são poucas as pessoas a seguirem a atividade, muito pelas questões de sustentabilidade: “é muito difícil sustentar uma família apenas com este negócio”. António Silva, Maria Celeste e Marco Silva ainda o fazem na garagem da residência onde vivem, muito por “culpa” do gosto e da paixão por uma arte que acompanhou as suas vidas.
Cestas fabricadas pela família revendidas em mercados de luxo dez vezes mais caras
As cestas da Alice Handmade saem do Juncal para vários pontos do globo. São feitas pelas mãos de Maria Celeste, António Silva e alguns colaboradores nas redondezas, respeitando a essência artesanal de todo o processo. Marco Silva encaminha muitas delas pelos CTT, através dos pedidos que lhe chega de clientes que se apaixonam pelos produtos exibidos nas redes sociais da marca. No entanto, há também muitos clientes habituais no Norte do País, em Lisboa, no Algarve e até em Espanha. Normalmente vendidas para grandes armazéns ou lojas turísticas, a um preço de revenda que varia entre os 14 e os 35 euros, há cestas que são certificadas pelo respetivo cliente, sendo posteriormente vendidas no mercado como artigos de luxo, podendo chegar até aos… 400 euros, um valor exorbitante e que na maioria dos casos chega a ser dez vezes maior do que o preço do artigo.