Esta famosa frase de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, proferida pelo Príncipe de Falconeri, no romance “O Leopardo”, bem poderia aplicar-se ao que está a acontecer à disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Há muito existente nos currículos dos alunos, desde o pré-escolar ao ensino secundário, tornou-se obrigatória em 2017/18, concitando, desde logo, forte oposição por parte dos setores mais conservadores da sociedade portuguesa. No entanto, existiam, desde há muitos anos, documentos e planos nacionais sobre esta matéria, cobrindo praticamente todas as áreas e temas, incluindo aqueles que agora desaparecem do documento oficial. Por exemplo, em 2012, em pleno governo de Passos Coelho/Nuno Crato, podemos ver nos documentos oficiais temas como “Igualdade de género” e “Educação para a saúde e a sexualidade”.
Então, porquê este alarido perante esta disciplina e estas temáticas? Será que a informação sobre elas, disponibilizada fora das escolas é suficiente? Não é isso que os estudos sobre as matérias indiciam: episódios de violência no namoro e entre os casais, infelizmente, não dão sinais de abrandar. Os fenómenos de intolerância em relação à diferença – seja ela de natureza sexual, social, económica, racial ou outra – estão a extremar-se. Nas nossas romarias e festas populares, ouvimos músicas que espalham mensagens horríveis, porque grosseiras, transmitindo valores que dão tudo o que uma escola deveria corrigir. Quanto à preparação dos professores, é óbvio que eles estão capacitados para o efeito. Hoje, mais do que em qualquer outro tempo, é comum um professor ser chamado a ensinar o que não aprendeu na sua formação inicial: por isso se instituiu, à volta dos CFAE, a formação contínua. Então? Então, estamos num tempo de “soundbytes” e de “perceções”. Em relação a estes temas, nenhum desígnio educativo foi determinante. As modificações tendem esbater diferenças entre tendências políticas tidas como dominantes. Até quando?