Os animais necrófagos vivem do que não vive. Às vezes, podem ser mistos, alimentando-se também do que caçam. Mas, sendo o seu core business a “alimentação oportunística”, gostam sobretudo do que os outros predadores deixam. Ou do que apodrece.
Por estes dias difíceis, em que a pandemia ataca, em todas as latitudes e em todas as culturas, os necrófagos estão particularmente vigilantes, farejando tudo o que possa ser aproveitado, tudo o que possa ser divulgado para insegurança de todos os outros. Indagam e, quando nada lhes entra pelas narinas, ficam furiosos e garantem que alguma coisa está a ser ocultada. E, quando lhes pedimos que nos digam nomes, retorquem que “sabem de fonte segura”, que já viram “nas redes sociais” e, quiçá, até nos jornais.
O mal que estes necrófagos fazem é incalculável, porque ninguém gosta de os ter no encalço. Mesmo que não matem ninguém mais forte do que eles (como o corvo, as rémoras ou os ouriços…), sempre é preciso estar atento: se algo não respira ou não reage, começa o festim. Há outros, porém (como a hiena, o chacal ou o coite) que não ficam à espera e investem, mesmo na falta de oposição da vítima, porque também gostam do sabor a fresco.
Estes novos necrófagos – que se alimentam de escândalos e vivem para um minuto de glória na TV – têm relações estranhas com a imprensa. Embora quase nada leiam, para além de “A Bola “e do “Correio da Manhã”, que encontram, de graça, nas mesas do café, estão sempre a dizer que vão chamar a imprensa, sobretudo a televisão.
No entanto, os tempos são o que são. Há casos de Covid entre nós, é claro. Há uma turma em casa? Também. Temos cerca de 50 incidências registadas. A maioria, porém, são meras suspeitas, possibilidades. Neste momento, temos 4 casos ativos. É muito ou é pouco? É o que há. Sem ocultamentos.
Artigo publicado na edição de 19 de outubro