Devo dizer que, como ex-católico tradicional, formado, em grande parte, num seminário de Braga, sempre me identifiquei mais com o Natal do que com a Páscoa. No entanto, sempre percebi que o âmago dos mistérios religiosos estava na Páscoa. Talvez por isso, enquanto que, no Natal, chegava a casa dos meus pais por volta de 18 de dezembro, na Páscoa, apenas chegava a casa em vésperas do domingo, depois de ter participado nas celebrações da Semana Santa de Braga. E sempre me emocionei, até ao fim, em 1973, com aquele ambiente pesado e solene da “Procissão do Enterro do Senhor” em que os farricocos mantinham em silêncio as suas matracas e se ouvia, no silêncio comovido de quase 100.000 circunstantes, quase todos os passos de quem se movia. Entre eles, estive, muitas vezes, eu.
Passada, com nostalgia, essa adesão à crença, resta-me uma desconfortável razão. Ora, Páscoa tem uma tradição milenar que cruza Velho e Novo Testamentos, Judeus e Cristãos, Ocidente e Oriente. Seja como for, parece haver, subjacente a todas essas longitudes e imaginários religiosos, a ideia de “Passagem”, de renovação. Com efeito, a Páscoa acontece sempre na Primavera, o tempus da celebração da vitória da vida sobre a morte. Este ano, no território de Cister, haverá páscoa. O ciclo camarário, por imposição legal, chega ao fim. O ciclo da gestão escolar, no grande Agrupamento de Escolas de Cister, também chegará ao fim – se não por imposição legal, por escolha própria. Do outro lado do mar, que já não se abre por mandamentos divinos, não sei se haverá terras prometidas. Mas haverá, por certo, terras de esperança e, para muita gente, terra sonhada e de promissão.
Assim, esquecendo os desarranjos e anacronismos da sua fixação no calendário, desejo a todos uma PÁSCOA FELIZ e que esta “passagem” seja o prenúncio de novos tempos e de tempos melhores – como, por norma, sempre aconteceu.