Quando, hoje, de manhã, a minha Cidália me despertou para uma “notícia horrível”, lembrei-me imediatamente destas palavras de Fernando Pessoa. É uma maneira de interiorizar absurdos, mas que abre para outras dimensões. Por exemplo: como dizer a pais que um filho morreu?… Porque isso, num mundo racional, deveria ser uma impossibilidade. Na verdade, sempre soubemos que morrem os pais e os avós, os amigos e os irmãos mais velhos. Um filho é um prolongamento da vida de quem a dá, os pais. Como pode, pois, ser capturada tão antes do tempo? Não pode. Porque, na verdade, os nossos filhos apenas morrem para os outros, para aqueles que lamentam, mas que não são carne da mesma carne. Os nossos filhos estão agarrados a nós intrinsecamente, para a eternidade da nossa duração. Sempre olharemos para além da curva da estrada, esperando o milagre de superarmos o “não ser visto”. Basta, de resto, fechar os olhos e, entre lagrimas, ao princípio, amargas, mas, depois, suavizadas pela memória, tenho a certeza de que todos nós, mas sobretudo os pais, veremos / verão um Xavier eternamente jovem, “menino de sua mãe”, para sempre.
Por isso, meu querido Xavier, estejas onde estiveres, sejas ou não pó das estrelas, tu estás connosco, mas, sobretudo, estarás vivo enquanto um destes quatro corações continuar a bater: o da “mãe coragem”, o do pai lacrimoso, mas sempre agarrado à mais profunda esperança e os dos irmãos. Depois, seguirás o destino dos mortais, segundo as crenças de que cada um seja capaz.
De uma coisa fico contente: dobraste a curva da estrada como finalista, num ato de comemoração do quanto fizeste para seres bem-sucedido, partilhando rituais que, na sua imponderabilidade, fazem deste lugar, efémero por natureza, uma “Terra de Alegria”.
Por mim, também vou continuar a olhar para além da curva da estrada…