Domingo, Julho 13, 2025
Domingo, Julho 13, 2025

Menos zés-povinhos e mais tertulianos

Data:

Partilhar artigo:

Não me parece que seja o perigo de exposição da intimidade que justifique esta superficialidade das relações sociais. Estou mais inclinada para o medo de expor as fragilidades do que as intimidades

Susana Santos

O Zé Povinho, personagem de Bordallo, representava um conjunto de pessoas que, embora pouco satisfeitas, se limitava à maledicência sem se atrever a aprofundar questões ou comprometer com soluções.

Embora hoje seja considerado simpático, o famoso Zé do manguito era, na verdade, um covarde que só sabia ofender. Nunca lhe deu para afrontar, nem para discutir, nem para lutar. Ninguém sabe o que realmente pensa, nem de onde lhe vem o ressentimento. É o resmungão de serviço. O que grita blasfémias de longe, mas tira o chapéu respeitosamente se interpelado pela figura importante. Finge-se forte, mas é o típico “agarrem-me se não vou-me a eles”.

Hoje o povo, isto é, nós, já não temos a desculpa da ignorância nem a dificuldade da miséria como teve a figura bordallesca. As nossas necessidades básicas estão satisfeitas e temos liberdade para pensar, para discutir e para reunir. Assim sendo, pergunto-me porque não somos mais tertulianos e menos zés-povinhos.

Região de Cister - Assine já!

Um dia destes apareceu-me uma daquelas frases de autor desconhecido que pontuam as redes sociais a dizer mais ou menos assim: sinto-me melhor nas festas com centenas de pessoas do que nas festas privadas, nestas perdemos a intimidade. Fiquei a matutar nisto e na aparente facilidade com que participamos nas celebrações públicas e na progressiva dificuldade em socializarmos nos pequenos círculos. Parecem rarear as tradicionais tertúlias, serões com amigos e encontros temáticos. 

Não me parece que seja o perigo de exposição da intimidade que justifique esta superficialidade das relações sociais. Estou mais inclinada para o medo de expor as fragilidades do que as intimidades. Estar num café público a comentar generalidades não compromete ninguém. Gritar um vitupério numa festa ou mandar uma boca numa feira também não traz consequências. Já aceitar um debate, olhar nos olhos o interlocutor que se deseja contradizer ou interpelar, implica coragem e comprometimento. O que dissermos passa a ter consequências. Expormo-nos assim, requer coragem e humildade. É preciso assumir que queremos aprender e ouvir o outro e que estamos dispostos a sair de uma discussão mais ricos do que quando entramos nela.  

AD Footer

Artigos Relacionados

Rodas d’Aço entregam cerca de 700 quilos de comida a famílias carenciadas

A associação Rodas d’Aço Motor Clube recolheu 690 quilos (!) de excedentes alimentares durante os nove dias das...

Armazém das Artes expõe as telas que o mar “dá” a Dino Luz

As telas que o mar dá a Dino Luz vão estar em exposição na galeria do Armazém das...

André Luís vive sonho como fisioterapeuta do Athletic Bilbao

Festejou os títulos de campeão nacional enquanto fisioterapeuta do Sporting, nas temporadas 2020/2021 e 2023/2024, mas quis o...

Atletismo: Beatriz Castelhano correu para o ouro nacional

Se dúvidas houvesse, já poucas restarão: Beatriz Castelhano (Arneirense) sagrou-se campeã nacional de 100 metros, no escalão de...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!