Quarta-feira, Setembro 3, 2025
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Menos zés-povinhos e mais tertulianos

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Não me parece que seja o perigo de exposição da intimidade que justifique esta superficialidade das relações sociais. Estou mais inclinada para o medo de expor as fragilidades do que as intimidades

Susana Santos

O Zé Povinho, personagem de Bordallo, representava um conjunto de pessoas que, embora pouco satisfeitas, se limitava à maledicência sem se atrever a aprofundar questões ou comprometer com soluções.

Embora hoje seja considerado simpático, o famoso Zé do manguito era, na verdade, um covarde que só sabia ofender. Nunca lhe deu para afrontar, nem para discutir, nem para lutar. Ninguém sabe o que realmente pensa, nem de onde lhe vem o ressentimento. É o resmungão de serviço. O que grita blasfémias de longe, mas tira o chapéu respeitosamente se interpelado pela figura importante. Finge-se forte, mas é o típico “agarrem-me se não vou-me a eles”.

Hoje o povo, isto é, nós, já não temos a desculpa da ignorância nem a dificuldade da miséria como teve a figura bordallesca. As nossas necessidades básicas estão satisfeitas e temos liberdade para pensar, para discutir e para reunir. Assim sendo, pergunto-me porque não somos mais tertulianos e menos zés-povinhos.

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Um dia destes apareceu-me uma daquelas frases de autor desconhecido que pontuam as redes sociais a dizer mais ou menos assim: sinto-me melhor nas festas com centenas de pessoas do que nas festas privadas, nestas perdemos a intimidade. Fiquei a matutar nisto e na aparente facilidade com que participamos nas celebrações públicas e na progressiva dificuldade em socializarmos nos pequenos círculos. Parecem rarear as tradicionais tertúlias, serões com amigos e encontros temáticos. 

Não me parece que seja o perigo de exposição da intimidade que justifique esta superficialidade das relações sociais. Estou mais inclinada para o medo de expor as fragilidades do que as intimidades. Estar num café público a comentar generalidades não compromete ninguém. Gritar um vitupério numa festa ou mandar uma boca numa feira também não traz consequências. Já aceitar um debate, olhar nos olhos o interlocutor que se deseja contradizer ou interpelar, implica coragem e comprometimento. O que dissermos passa a ter consequências. Expormo-nos assim, requer coragem e humildade. É preciso assumir que queremos aprender e ouvir o outro e que estamos dispostos a sair de uma discussão mais ricos do que quando entramos nela.  

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