Quinta-feira, Outubro 16, 2025
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E agora, José? Na ressaca das últimas eleições

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Creio que sempre acreditei, com pequenas variações, nas mesmas causas que agora defendo. Sempre acreditei na propriedade privada, mas com reservas.

Gaspar Vaz

Já várias vezes convoquei o “José” e o seu criador, Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José? / e agora, você? / você que é sem nome, / que zomba dos outros, / você que faz versos, / que ama, protesta? / e agora, José?” Nunca me senti tão “José” como agora, como se estivesse naquele tempo depois de uma batalha perdida.

Creio que sempre acreditei, com pequenas variações, nas mesmas causas que agora defendo. Sempre acreditei na propriedade privada, mas com reservas, porque ninguém pode começar a vida com tanta margem de avanço nem com tantos pontos de atraso. Sempre acreditei na democracia, no sentido de dar voz ao povo, e, sobretudo, aos mais desfavorecidos.

Esta é a minha marca de “esquerda”. Os bem-nascidos, os mais capazes são produtos da natureza e são por ela defendidos. Chegarão, “naturalmente”, mais longe e não têm de pedir desculpa a ninguém por isso. Eu, porém, sempre achei que, através da obra humana, a natureza pode ser humanizada pela educação cívica, pela religião, pela realização técnica. Também sempre pensei, depois de um primeiro assombro nacionalista, que a Península Ibérica, primeiro, e a Europa, depois, seriam melhores espaços para viver. Porém, depois, veio Trump, Le Pen, Orban, Bolsonaro, Putin, o Brexit…

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Depois, veio uma educação que confundiu felicidade com facilitismo. Depois, veio uma cultura que não deixou de olhar para o passado como a terra prometida. E, falando disso, depois, veio Israel que, nascido da boa-vontade de uma cultura abraâmica, se tornou uma entidade equívoca, capturada por interesses locais, em que Smotrich ou Ben-Gvir podem, ou não, mandar Netanyahu para a cadeia.

Em vez disso, enviam milhares de pessoas para infernos inomináveis, ao pé dos quais os campos de concentração nazi se naturalizam.

A história não é, nunca foi, uma estrada direita que vai do mal ao bem. Continuo, porém, otimista, de acordo com o meu mestre de ver as coisas, Alberto Caeiro: “Passou a diligência pela estrada e foi-se; / E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia / Assim é a ação humana pelo mundo fora. / Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos; / E o Sol é sempre pontual todos os dias.”

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